tag:blogger.com,1999:blog-85084047191144539562024-01-27T02:00:13.543+00:00Fragmentos_ptBlog sobre música, som, design, ciência e cultura em Português.Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.comBlogger108125tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-1710488587438043882023-11-16T16:07:00.001+00:002023-11-16T17:54:45.102+00:00Ao AC<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdDoNdubrXCaoci_llfmdmVNfBbpEat1NVprFxpgm2n_xnkJtsmaBOSDlDxUhrfgq1A6K6K5xmkb00JzOVgrt5kTjD0DtXf2A7T1YJdhZez3dWcNG4pIiB0XxLLAmmfcJ5_kxs6lz1Fh-goAVufh4zOjGUgJcE5FXIezat5sUpYbGvVkkKu2rAjeLtTqMz/s1255/AcusticaMusical.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1255" data-original-width="904" height="443" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdDoNdubrXCaoci_llfmdmVNfBbpEat1NVprFxpgm2n_xnkJtsmaBOSDlDxUhrfgq1A6K6K5xmkb00JzOVgrt5kTjD0DtXf2A7T1YJdhZez3dWcNG4pIiB0XxLLAmmfcJ5_kxs6lz1Fh-goAVufh4zOjGUgJcE5FXIezat5sUpYbGvVkkKu2rAjeLtTqMz/w320-h443/AcusticaMusical.jpg" width="320" /></a></div><p style="text-align: center;"><br /></p><p><span style="font-size: large;">O</span>ntem foi um dia bom. Fui surpreendido com a generosíssima oferta, por parte do meu querido amigo A.C., de um exemplar da <i>Acústica Musical,</i> do saudoso Luís Henrique, cuja grata memória aproveito aqui para evocar.</p><p>Ainda estou sem conseguir encontrar as palavras exactas para descrever o impacte que a oferta do A. teve.</p><p>O livro encontra-se há muito esgotado e eu, por razões várias, nunca tive a oportunidade de o obter. A generosidade do A. ajudou a preencher uma lamentável lacuna na minha biblioteca, que há muito lastimava.</p><p>Vem a propósito lembrar que o livro <i>Acústica Musical </i>constitui a única obra de referência nesta área, em português. E aproveito esta nota pública de gratidão para manifestar o meu sentimento de total perplexidade pelo facto de a FCG, editora original do livro, não tomar a iniciativa de o reeditar. É um mistério, daqueles para os quais se não encontra qualquer explicação válida. O Luís não merece ficar na história, na melhor das hipóteses, apenas como <i>stock</i> de alfarrabistas.</p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-71926988411678382232023-11-12T13:52:00.027+00:002023-11-19T13:50:43.147+00:00Não há coincidências (dois em um)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjLK4cYWPluUEg5O4rzVjsMahSnSo1XoDGHahLommws3nEDYtlJeZJIB25XR_8T3kEGjht5DzZdE5lzwS3MJbE50wgmyUweMDLCad_wOVr_unT0UbRKe_Wzl2aHau6UMFePMABrH71NG0_1HDnZgX6Pvc3r5wYk5w6pqXEsp39vLNVJ5JJpcUym19dl-AH/s4032/IMG_5772.JPG" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="4032" data-original-width="3024" height="435" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgjLK4cYWPluUEg5O4rzVjsMahSnSo1XoDGHahLommws3nEDYtlJeZJIB25XR_8T3kEGjht5DzZdE5lzwS3MJbE50wgmyUweMDLCad_wOVr_unT0UbRKe_Wzl2aHau6UMFePMABrH71NG0_1HDnZgX6Pvc3r5wYk5w6pqXEsp39vLNVJ5JJpcUym19dl-AH/w326-h435/IMG_5772.JPG" width="326" /></a></div><p style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Fragmento de um desenho de © José Carlos Faria</span></i></p><p>Abertura. No passado dia 9/11, recebi finalmente, das mão do seu autor, o meu amigo, cenógrafo e figurinista, José Carlos Faria, o prometido desenho de um figurino concebido por ele para a minha amiga Rita Nunes, a súper saxofonista. </p><p>Primeiro Andamento. Há uns dias o José Carlos Faria surpreendeu-me com um telefonema para me informar que tinha o tal desenho original do figurino da Rita para me oferecer. Com uma dedicatória que me deixou absolutamente sem palavras. Só no dia 9, como referi, o desenho me pôde chegar às mãos. O desenho é, em si, uma verdadeira preciosidade e desencadeou, pela via do traço do Zé Carlos, uma cascata de caríssimas recordações.</p><p>Segundo Andamento. A Rita usou esse figurino na peça "Um contínuo movimento, um estranho equilíbrio" de Rocco D'Onghla, uma das peças que fazia parte de um espectáculo do Teatro da Rainha, chamado "<a href="Um contínuo movimento, um estranho equilíbrio," target="_blank">Estação Inexistente</a>." Que bem poderia chamar-se "Estação Inesquecível." A peça estreou em Abril de 2006. Eu tinha conhecido a Rita pouco tempo antes de começar a trabalhar na música do espectáculo, num concerto no CCB. Tinha decidido que a música se iria centrar na sua figura, sonora e visual, tal fora o impacte que ela teve sobre os meus olhos e ouvidos, aquando esse primeiro encontro. A sugestão foi aceite e a Rita fez um trabalho absolutamente espectacular (cf. <a href="https://carlosalbertoaugusto.org/archivemusic.html" target="_blank">excerto</a> do <i>Tango Inexistente</i>, um dos temas que fez parte da música da peça, re-orquestrado nesta versão. de arquivo)</p><p>Terceiro Andamento. O figurino que o Zé Carlos desenhou para a Rita, contribuiu decisivamente para o o resultado final do espectáculo que referi. A figura que ajudava a compôr, a um tempo cheia de energia e de poesia, foi um fortíssimo factor para a criação de uma dimensão muito especial do espectáculo. A presença dela, nestas circunstâncias, constituiu, diria, um espectáculo fora do espectáculo. Inesquecível, Voltaríamos a colaborar na música que escrevi para uma outra peça também levada à cena pelo Teatro da Rainha, chamada "<a href="https://teatrodarainha.pt/eventos/o-coronel-passaro-de-hristo-boytchev/" target="_blank">O Coronel Pássaro</a>," estreada em Março de 2007, um trabalho divertidíssimo, para uma peça singular (cf. <a href="https://carlosalbertoaugusto.org/archivemusic.html" target="_blank">excerto</a> do <i>Hino da Boytchevia</i>, que fez parte da música da peça.)</p><p>Finale. Quis o destino que quando dei conhecimento à Rita da existência desse desenho, do qual tirei a pequena foto que ilustra este artigo, ela me informasse que viria tocar com o seu <i>Olissipo Saxophone Quartet</i>, aqui perto da minha terra. Um presente precioso do Zé Carlos, que produziu um reencontro feliz com a Rita.</p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-1461992542475798832023-08-27T14:00:00.090+01:002023-09-06T16:45:41.617+01:00OVNIS e a Lei dos Vasos Comunicantes<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYj5VeJgdsP89LO1njkzOFcyIITKnqFGtcY3zTnx9EUr3b4xFHN5poJGmBA5ohm7f2OOCgDzKj_r2f9YJ09iCGpZGBOA-K5ykoL6QbFR2ICfHwPZ-0UmI35Qgqxb1OaNo1mfnqworOfxRWVhJ2BX1qivrnhpMt9XfgPyYNHdN47ihfXFjBfsrBBmbuxoe6/s4032/ESC2018.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="403" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYj5VeJgdsP89LO1njkzOFcyIITKnqFGtcY3zTnx9EUr3b4xFHN5poJGmBA5ohm7f2OOCgDzKj_r2f9YJ09iCGpZGBOA-K5ykoL6QbFR2ICfHwPZ-0UmI35Qgqxb1OaNo1mfnqworOfxRWVhJ2BX1qivrnhpMt9XfgPyYNHdN47ihfXFjBfsrBBmbuxoe6/w537-h403/ESC2018.jpg" width="537" /></a></div><span style="font-size: large;"><br /></span></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b><span style="font-size: large;">J</span></b>ohn Williams (*) é um compositor de fitas. Não se lhe conhece qualquer brilharete significativo, fora do domínio da música para cinema de grande bilheteira. Mas John Williams goza de um enigmático estatuto especial, não porque tenha inovado o género ou criado algo de especialmente significativo fora dele, mas porque sabe cavalgar a <i>blockbuster machine</i> americana, proporcionando o fogo de artifício sonoro que os guiões <i>hollywoodescos</i> exigem.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">A música deste compositor vai ser apresentada em Lisboa, no amplo espaço do Vale do Silêncio, dentro em breve, executada pela Orquestra Gulbenkian. Não tenho a mínima dúvida que o evento vai ser um tremendo sucesso. Talvez tenha direito a directo e até, quiçá, abertura de telejornal. O espaço vai estar à cunha, com toda a gente de bem a assistir e a aplaudir, no final, de pé. Porventura possuídos pelo espírito de um evento recente, realizado em local não muito distante, os espectadores assistirão ao mega evento, reverentes e de mãos postas, provavelmente em genuflexão, vergados perante o peso do “génio.” Não estranharia que a ele assistam também muitos dignitários do regime, actuais ou em fase de botox. No final, toda essa gente voltará para casa como quem, depois de uma ida ao confessionário e de presença na missa, com deglutição da hóstia, para mais uma sessão de pecados.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Um olhar externo que percorra a programação dos grandes acontecimentos de massa, mais ou menos estivais, na área da música e que repare nos espaços onde decorrem, pensará: ena pá!, Portugal é um país com uma vitalidade artística prodigiosa. Deve ser um país incrível. Ali a música é mesmo levada a sério e não pára!! Eventos musicais, nesta altura, são à dúzia e sucedem-se de forma alucinante. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>Um vale de silêncio</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Este do Vale do Silêncio é de borla. Ou melhor, parece ser de borla. É uma excepção. A torcida irá, seguramente, acorrer aos milhares, um pouco em razão do “preço” do bilhete. Mas há os outros. Os outros mega eventos e os outros milhares de fanáticos, militantes do festival, que não perdem festivais e concertos avulsos que surgem como cogumelos, sempre assentes neste formato <i>prêt-à-porter</i>, importado, para a presença nos quais parece sempre haver uma nota preta disponível para o respectivo ingresso. É muito, muito dinheiro que corre pelas entranhas destas iniciativas. É a lei dos vasos comunicantes: entra aqui sai de algum lado. Neste caso, a EGEAC, que organiza este acontecimento, poderá explicar esta extravagante física dos fluídos. A particularidade, no caso do Vale do Silêncio, é a de ir ser abrilhantado por uma entidade que já conheceu melhores dias, no que respeita à ajuda à reparação das profundas rachas culturais do povo português.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>Se um alienígena...</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Imagine um extraterrestre incauto, desembarcado recentemente do seu OVNI, a olhar para toda esta actividade frenética. Pensará que se trata de um país com uma fortíssima tradição musical, uma enorme proteção à arte de Euterpe e uma actividade cultural intensa, firmemente implantada no tecido intersticial da sociedade portuguesa. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">O nosso extraterrestre olhará para tudo isto e concluirá que só poderemos estar perante o corolário do esforço nacional, superiormente conduzido e politicamente sustentado, para desenvolver a cultura deste país e colocá-lo, neste domínio, a par do resto do mundo civilizado. O respeito pela sua tradição musical, pensará o extraterrestre, leva Portugal a querer dar a conhecer o que se faz lá fora, para ajudar a realçar o que se faz cá dentro... O programa da esmagadora maioria das iniciativas a que o nosso extraterrestre assiste é preenchido com nomes importados, de estrelas em fogacho transitório ou em fase cadente, mas que importa! Deduzirá ele que a cultura, na miríade de formas e modos de se manifestar, incluindo estes mega eventos estivais, espelha uma luxuriante e harmoniosa actividade, continuada ao longo do ano, seja no verão seja noutra qualquer estação ou apeadeiro. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Podemos antecipar os pensamentos que acorrem à mente deste extraterrestre, imaginário e distraído. Um grande festival, que inclua um conjunto de artistas diversificado ou a celebração do trabalho de um compositor considerado especial, seriam assim, pensará legitimamente o forasteiro vindo do espaço, uma arena de excepção, prestigiada, que distingue os seus intervenientes, uma mostra que culmina e complementa uma intensa e continuada actividade no domínio da cultura. Não suspeitará, o nosso extraterrestre que tudo isto não passa afinal de um gigantesco piano bar.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Um festival, como eu o imagino, é um espaço inclusivo, construído por todos, produzido por forma a que todos o possam desfrutar e onde todos possam intervir na medida das suas capacidades. Algo como, por exemplo, os festivais de onde emanou a tragédia grega, só possíveis de realizar pela iniciativa de uma elite culta, nascida de uma sociedade culta, onde todos são elite, como dizia o outro. Não é o caso. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>Há festivais e festivais</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">A esmagadora maioria destas manifestações da pimbalhice lusa não passa de mais uma ferramenta de exclusão, de afirmação de classe e de um estilo de vida rançoso, de um certo modo, badalhoco e indigente, de ser português. São iniciativas para distrair o pagode, facturar, marketear, entreter o turista e projectar um holograma de cultura. O público que assiste, totalmente anestesiado e esmagado pela tonelagem que estes acontecimentos arrasta, ficará com a sensação de subida na escala social. Mas, não. No fim continuarão os mesmos pindéricos de sempre. Continuarão a ignorar e a desrespeitar a rica tradição musical do País, que vai subsistindo nas poucas salas de reanimação e de cuidados intensivos, que por aí vão pedindo licença para continuar a existir, ligadas ao pulmão artificial. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Há mega festivais e mega concertos lá fora? Há pimbas e pindéricos, alemães, franceses, ingleses, americanos e realizações pelintras noutros países? Há promoção de falsos ícones? Certamente. Mas o ponto de partida é totalmente diferente. Há, na generalidade dos países civilizados, uma actividade cultural intensíssima, recursos disponíveis, uma tradição, um património e um respeito pelos agentes da cultura, que cá não existe. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Não podemos, também é certo, colocar todos os festivais que cá se realizam no mesmo saco. Alguns têm enorme mérito e serão produzidos com uma tremenda e louvável dose de carolice, por genuína preocupação cultural. Verdadeiro serviço público, portanto. Mas isso é, infelizmente, a excepção. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b><br /></b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>Pode o pior ficar pior? </b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Há muito que observamos este resvalar continuo para a catástrofe cultural. Para uma catástrofe “por vir,” como lhe chama o António Guerreiro, a propósito da crise ambiental. Guerreiro refere, ainda a propósito da crise climática, que podemos pensar em catástrofes ecológicas no futuro. Mas não nos podemos esquecer que “noutros sítios e noutros tempos elas não se conjugam no futuro, já se deram. Há populações inteiras para as quais o fim do mundo já chegou. Nós é que nem queremos dar por isso. Esta é a regra em que vivemos: todos os dias e a toda a hora estamos a ser avisados do perigo iminente, da catástrofe por vir, alienando-nos das reais catástrofes que não são iminentes, mas imanentes, na medida em que já aconteceram, aceleradas pela lei geral da aceleração própria do mundo moderno, que não produz apenas a vertigem, mas também o desenraizamento, o exílio e também as perigosas reacções políticas que lhes correspondem.” (Ípsilon, 2023/08/24)</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Sim, há populações inteiras para as quais o holocausto cultural já chegou há muito e ninguém deu por isso. Há um Portugal que, em virtude da aplicação desta lei dos vasos comunicantes, não tem dinheiro ou energia, sequer, para tirar o cu do sofá e desviar os olhos, por um momento das televisões e das doses de “cultura” com que o intoxicam. Na melhor das hipóteses, haverá uns arraiais e umas feiras, com programa mais ou menos pimba e direito a fartura e mini, tudo já a prenunciar as próximas eleições.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>E contudo...</b> </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Saem hoje das escolas de música, conservatórios e departamentos de música das universidades, centenas de graduados, com uma qualidade nunca antes vista, para não falar dos que despontam em resultado da actividade pedagógica de inúmeras bandas filarmónicas e de projectos exemplares como as Orquestras Geração ou o Tocárufar. De facto, esta é a geração de músicos mais bem preparada de sempre. Em alternativa à vida de miséria a que estão cá condenados, alguns emigram. Não vão de jangada e nos países de acolhimento são recebidos, sem problema, frequentemente iniciando carreiras de grande sucesso. Alguns acabam por se tornar exemplos de talento, que no seu país de origem poucos reconheceram. Outros, a maioria, resignar-se-ão a arrumar partituras e instrumentos e procurar emprego como caixa de algum supermercado. Quando falam no problema da emigração dos nossos mais bem preparados de sempre, os que assim procedem —i.e., uma geração de responsáveis políticos, essa sim, verdadeiramente rasca— lembram os médicos, enfermeiros, economistas, gestores, especialistas em informática, e outras especialidades da moda, mas esquecem os músicos.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Os filhos dos amigos do sofá vão-se, entretanto, arrastando até às escolas de música dos vários níveis, carregando os seus instrumentos, e aí serão preparados para depois serem encaminhados para os fornos crematórios da cultura em que se transformou Portugal. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><b>A metáfora</b></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">A música não passa, já terão adivinhado, de uma metáfora. Tudo isto não é mais, apesar de tudo, que o retrato do estado da nação e o retrato até será benevolente. </div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Que todos devíamos meter a mãozinha na consciência e pensar seriamente no que andamos a fazer, afinal, neste mundo, parece-me uma evidência. Que toda a gente deveria corar de vergonha perante este estado de coisas, sobretudo, aqueles que tiveram e têm capacidade para mudar este triste fado, não tenho dúvida. Que ninguém vai ler este escrito, fazer esse exercício a sério e agir, é uma realidade sobre a qual também não tenho qualquer espécie de ilusão.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">(*) Não confundir com John Williams, o excelente guitarrista australiano.</div></div><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-71374611268342697852023-03-18T00:58:00.026+00:002023-04-09T16:42:02.438+01:00O(s) regresso(s)<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheR4epFRGKqrsmjqGxmFQpdtxrC-oXrxvS4iALIqZTDkgn6dI8tRjz-1-_ZSJ2HzMgiOt9oX5DXp197qLml8MO6LEaZmr9ZBsQw2L31mG4pWNTFeN0r8HkRrfhUw3-jvDucZ3VjTeYs6s9FhRzOHR3gEQIcG4th9_PRflObKunxna22jLzZ8VmEQeY5Q/s4032/IMG_4603.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="368" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheR4epFRGKqrsmjqGxmFQpdtxrC-oXrxvS4iALIqZTDkgn6dI8tRjz-1-_ZSJ2HzMgiOt9oX5DXp197qLml8MO6LEaZmr9ZBsQw2L31mG4pWNTFeN0r8HkRrfhUw3-jvDucZ3VjTeYs6s9FhRzOHR3gEQIcG4th9_PRflObKunxna22jLzZ8VmEQeY5Q/w490-h368/IMG_4603.jpg" width="490" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none;">Estreou a peça <i>Ajax, Regresso(s)</i>, de Jean-Pierre Sarrazac, uma produção do Teatro da Rainha, encenada pelo Fernando Mora Ramos. É a 63ª peça para a qual concebi a musica ou o cenário acústico, quinta peça escrita por Sarrazac em que participo. Começou com a importante experiência que foi o <i>Menino Rei</i>, continuou com <i>Envelhecer diverte-me</i>, a <i>Paixão do Jardineiro, </i>a <i>Morte de um DJ</i> e prossegue agora com este <i>Ajax, Regresso(s).</i></span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 13px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"><i></i></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Regresso, também eu, com este <i>Ajax, Regresso(s)</i> ao Teatro da Rainha, companhia para a qual trabalhei em trinta outras produções, para além dos cinco referidos textos de Sarrazac, após um relativamente longo interregno. Regresso também com algumas sonoridades que me trazem à memória as minhas primeiras colaborações com a companhia.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Ao contrário da figura da epopeia Homérica ou do herói do drama sofocliano, este Ajax é um personagem que nos suscita arrepios. Nada parece capaz de apagar a sanha sanguinária que o faz correr. Tentar compreendê-lo ou dialogar com ele é o mesmo que falar com um <i>junky</i> ou um esquizofrénico. Não há hipótese. Resta, por mais duro que isso possa parecer, com coragem, encerrar este Ajax moderno num qualquer colete de forças. </span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Certamente que as carnificinas levadas a cabo, em modo clássico, nos tempos da Grécia Antiga não terão sido menos horrendas do que as perpetradas pelos assassinos das guerras balcânicas, em modo mais pós-moderno, de onde este Ajax parece emergir, ou da actual “operação especial,” claramente mais </span>global, para onde esta leitura do texto de Sarrazac nos pretende agora remeter. Seja como for, de tudo isto fica a sensação de que já não há heróis que nos valham. Os últimos estão encerrados, sem culpa formada, desde há anos, por terem acometido a besta a golpes de caneta. Estamos em pleno império do olho por olho, dólar por dólar. Moribundo, mas ainda aos coices. A peça de Sarrazac parece, isso sim, dar-nos um retrato do absoluto desespero em que o mundo ocidental ou ocidentalizado caiu, que a tímida nota de “final feliz” não consegue desfazer. Saímos deste regresso tão ou mais desesperados do que entrámos. Com a "mentira da paz", como refere o texto, mais clara perante o nosso olhar, do que nunca. A desafiar a nossa impotência.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">A primeira leitura da peça remeteu-me para um universo sonoro que me trouxe ao espírito um dos meus heróis musicais, Xenakis. O som que corria na minha mente era como que um tributo a uma figura que admiro sem limite. A vida de resistente do compositor grego, a sua coragem e o horror da guerra em que se viu envolvido, tantas vezes sugerido, de forma superior, em várias das suas composições. </span></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"><br /></span></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Ao prosseguir o meu trabalho, o tom de luta e resistência que a música de Xenakis evocava em mim, presente no vigor dos tambores, nas correntes arrastadas e nos pedaços de metal percutidos, arranhados e raspados, foi lentamente sendo substituído, apagado, à medida que os trabalhos de preparação foram decorrendo, pelos gritos dos abutres e por um coro de vozes desesperadas à procura de uma saída para o estado de barbárie humana, mais ou menos sangrento, mais ou menos surdo, em que a nossa civilização parece ter caído, perante o nosso olhar </span>incrédulo. Que nem o tom musical mais ou menos colorido do falso final, antes do monólogo da Jovem Mulher e, sobretudo, do final surpresa conseguem enganar.</p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none;">Não há regresso. A resistência passará, inevitavelmente, por outros modos de actuação. </span></p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-22181753959959200642023-03-13T20:20:00.023+00:002023-11-16T18:06:29.535+00:00 Uma mulher, num carro, a beber café (das notas de programa e algumas notas adicionais)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIw9EPHQmepzN4d-yWJnlfra14crCUCUiAttLZtl2gQEBs7qB8eq1XSQOAhwTLu_R9ctH_jjpM5khrsQkqEc0qqgKOjwUR8FMi9H8ISLTTrW9wcXOwYpybfoMSoHpATqTa941dKW8WHbPdvPQky8bzKIoLV3c7mb2y70GSHdUKlPV5p5l7RrzKAaRPHQ/s1440/Magne%CC%81tico.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1032" data-original-width="1440" height="354" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIw9EPHQmepzN4d-yWJnlfra14crCUCUiAttLZtl2gQEBs7qB8eq1XSQOAhwTLu_R9ctH_jjpM5khrsQkqEc0qqgKOjwUR8FMi9H8ISLTTrW9wcXOwYpybfoMSoHpATqTa941dKW8WHbPdvPQky8bzKIoLV3c7mb2y70GSHdUKlPV5p5l7RrzKAaRPHQ/w495-h354/Magne%CC%81tico.jpg" width="495" /></a></div><p style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Foto Carolina Lecoq</span></i></p><p></p><p><span style="font-family: "Helvetica Neue";">O espectador entenderá, a seu tempo, no decorrer do espectáculo, a razão deste título. </span></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">A inspiração para ele remete para uma série de 2012, concebida pelo comediante Jerry Seinfeld, intitulada <i><a href="https://en.wikipedia.org/wiki/Comedians_in_Cars_Getting_Coffee" target="_blank">Comedians in Cars Drinking Coffee</a></i>. A série, que totalizou 11 temporadas, para um total de 84 episódios, foi pensada originalmente para plataformas digitais e passou depois do <i>site</i>, onde pôde ser vista originalmente, para a <i>Netflix</i>. Em cada episódio Seinfeld convidava um colega comediante, e, para cada um, escolhia um carro clássico, que melhor se ajustasse à sua personalidade. Seguiam depois num passeio até a um café ou restaurante, onde os dois tomavam café e conversavam. Os episódios poderiam divergir deste formato singelo, com a inclusão de cenas mais ou menos improvisadas.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Do formato desta série resultou, na minha opinião, uma das coisas mais bem concebidos a que pude assistir neste género. A qualidade da série resulta da enorme economia de meios, da sua subtil e eficaz integração e da força e enorme eficácia da escrita.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">A primeira vez que trabalhei com o Abel foi há cerca de 23 anos, numa peça intitulada <i><a href="http://cenalusofona.pt/index.php/evento/supernova/" target="_blank">Supernova</a></i>, um texto de sua autoria, inserido no contexto da comemoração dos 500 anos do achamento do Brasil. Foi uma iniciativa do Dramat/TNSJ, em coprodução com a ASSÉDIO, do Porto, do CENDREV, de Évora e do Teatro Vila Velha/Companhia de Teatro dos Novos, de S. Salvador da Bahia (Brasil) e a colaboração do CAEV, de Viseu e da Cena Lusófona. A <i>Supernova</i> foi estreada em 25 de Abril de 2000, em S. Salvador da Bahia e percorreu depois algumas cidades portuguesas.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Nesse texto percebiam-se muitas das qualidades que este <i>Magnético</i> também contém, que me fizeram agora pensar nesta série concebida por Seinfeld. Não pelo conteúdo, mas pela forma. Os textos do Abel são extremamente depurados, de uma enorme eficácia e de um grande sentido de unidade. Falam de eus fragmentados, mas apontam para a sua (re)união.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;">Enorme eficácia, pois. Para todos os que participam na produção dos textos aludidos, a escrita do Abel, no seu despojamento, contém todas as indicações que permitem aos participantes instalarem-se nos respectivos blocos de chamada e lançarem-se em frente, de imediato, ao tiro de partida, sabendo quantas voltas vão ter de dar e as qualidades e características da pista onde vão correr. Recordo-me <a href="http://carlosalbertoaugusto.org/Artigos/broder.html" target="_blank">de ter escrito em 2000</a>, que, em <i>Supernova</i>, tive a sensação de que o Abel estava a desafiar o compositor, nas suas didascálias, a encontrar a solução adequada para o envolvimento sonoro do seu texto. Afinal não era um desafio que estava a ser feito, a mim particularmente, ou naquela peça, em particular. Tratava-se, sim, de elevar a escrita a um outro patamar, coisa raríssima nos dramaturgos contemporâneos, presente também neste <i>Magnético, </i>de conceber uma partitura total, enxuta, mas, como disse, de enorme eficácia. Um texto, por tudo isto, de uma rara beleza.</span></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 12px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"></span><br /></p>
<p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"><i>Magnético</i> volta a evidenciar esta capacidade de pensar de forma integrada o texto dramatúrgico, não como mero exercício de escrita de palavras —a que algum jeitoso, mestre dos efeitos especiais poderá depois juntar um <i>cocktail</i> caprichoso de intervenções avulsas, feito de ornamentos coloridos, mais ou menos na moda,— mas como um todo, muito preciso, em que cada um, actores, cenógrafo, iluminador, sonoplasta e o compositor, na sua função específica, parte desde logo, com um conhecimento muito detalhado do valor dramatúrgico da sua intervenção. Fruto de uma visão culta do teatro, abrangente e moderna, mas profundamente enraizada na sua matriz ritual, com a qual me identifico plenamente. Um prazer raro, trabalhar com o Abel.</span></p><p style="font-family: "Helvetica Neue"; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="-webkit-font-kerning: none; font-kerning: none;"><br /></span></p><p style="font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span style="font-family: Helvetica Neue;"><i>(Notas adicionais- Queria distinguir aqui a forma acolhedora com que fui recebido pela equipa do CENDREV, neste regresso ao TGR. E acrescentar que vamos certamente continuar a nossa colaboração, o Abel e eu.)</i></span></p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-91518540531302684312021-07-28T00:40:00.035+01:002024-01-27T00:14:53.024+00:00A Cantata de Évora<p> <span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: large;">U</span>m telefone que toca. Passaram vinte anos. A surpresa do contacto. Do outro lado vem uma aliciante proposta: criar o envolvimento sonoro de um novo centro interpretativo, em Évora, instalado num espaço de características únicas, com muito material informativo para lá colocar.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">O “caderno de encargos” que me é transmitido, encerra um enorme e complexo desafio. O centro interpretativo precisa de som que lhe "acrescente" espaço e lhe alivie a pressão informativa, tornando-o mais ligeiro sem lhe comprometer. função. Som que substitua, na medida possível, parte dos habituais dispositivos usados para exibir este género de conteúdos, painéis, ecrãs. Mas som que funcione também como uma espécie "sala de espelhos" e, ao mesmo tempo, conferindo virtualmente mais dimensão ao espaço expositivo, ajudar a transmitir informação que, de outra forma, iria sobrecarregar<span class="Apple-converted-space"> </span>e saturar esse espaço.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">O telefonema foi de Cármen Almeida, coordenadora geral do projecto, que me transmite o conceito que gostaria de ver concretizado. Lança-me este repto com um entusiasmo que reflecte um carinho especial </span>e indesmentível pelo projecto, que imediatamente me contamina.<span class="Apple-converted-space"> </span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">O <i>Centro Interpretativo da Cidade de Évora</i> é uma inciativa que tem vários objectivos: faz parte de uma preocupação do município de preservar e valorizar o monumento — o Palácio D. Manuel — onde todo este complexo está alojado, e pretende acrescentar ao monumento nacional esta mais valia, que é este centro interpretativo. Uma mais valia que irá seguramente, constituir um novo pólo de atracção da cidade.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">O Centro Interpretativo vai ser inaugurado no próximo dia 30 de Julho de 2021, depois de um longo período de preparação.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><br /></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinygxv5ALKlrAB0GZwE3FYI-jexynbky1ecKBHlCNogWZ6Rh6XuhIzUx4DdAWbTlSn3Kcjt2_MCnt_YcMh_wiUP5ESrpCqFIOSEdmhOMFjkGTHjBdHGOBOrp4CZ27Rkm1DAo-QumjtMsRd/s2048/IMG_3416.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="396" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinygxv5ALKlrAB0GZwE3FYI-jexynbky1ecKBHlCNogWZ6Rh6XuhIzUx4DdAWbTlSn3Kcjt2_MCnt_YcMh_wiUP5ESrpCqFIOSEdmhOMFjkGTHjBdHGOBOrp4CZ27Rkm1DAo-QumjtMsRd/w529-h396/IMG_3416.jpg" width="529" /></a></div><br /><span class="s1" style="font-kerning: none;"><br /></span><p></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">A minha adesão a este desafio foi imediata.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Depois das conversas iniciais, verificámos a necessidade de dispormos de um texto e discutimos as modalidades em que esse texto deveria funcionar. Foram avaliadas as possibilidades de o produzir. Foi analisada toda a documentação que se relaciona com o tema. Foram<span class="Apple-converted-space"> </span>avaliadas as diferentes soluções técnicas possíveis. Foram cruzadas as diferentes especialidades. Foram analisadas as diferentes possibilidades técnicas de implementar o dispositivo técnico necessário para concretizar o projecto. Foram feitas visitas, reuniões de trabalho, foram tomadas as primeiras decisões, que viriam a condicionar toda a evolução do projecto. Tudo decorreu num clima excelente, de grande entusiasmo e cordialidade.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">A pandemia caiu-nos, a todos, entretanto, em cima. O processo foi evoluindo com as limitações naturais que este fenómeno trouxe às nossas vidas, mas a determinação não esmoreceu.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Um aspecto que a todos criou grande expectativa foi o da definição e criação do texto. Quando, finalmente, o texto concebido pela Rita Taborda Duarte e pela Mariana Carvalho nos chegou às mãos, o entusiasmo que nos suscitou era indisfarçável. Constituiu, suspeitámo-lo desde o primeiro momento, um elemento fulcral de todo o projecto, que balizou, em larga medida, a evolução do meu próprio trabalho e o marcou fortemente.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">A criação do envolvimento sonoro do novo Centro Interpretativo da Cidade de Évora foi uma operação de enorme complexidade.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">A solução que tentei encontrar situa-se na confluência de uma série de géneros, num território que está talvez mais próximo daquilo que hoje se designa por Arte Sonora. Algo inusitado num género de aplicação como este, de natureza museológica. Situado entre a ópera, a instalação, a banda sonora e o guia sonoro mais tradicional.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Uma <i>ópera</i>, sim, uma ópera falada. Ópera porque existe uma narrativa por música, de índole dramática, feita de música, vozes solistas e coros. Cujo tempo e espaço são o tempo e o espaço da própria história da cidade. Cada “cena” tem a sua lógica própria, que pode ser apreciada época a época, de forma autónoma, seguindo a narrativa da exposição, mas que, na sua versão global, segue quase os ditames de um drama tradicional. A cidade como teatro. A obra retrata a epopeia que foi a evolução da cidade, desta cidade tão marcada pela história, como poucas o serão.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><br /></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgABLQfdph2VSJQvYp2Bunj4U49miB1dCXimHwNy_i5wAPibaoaGR3OeMVY62EOvsdQw1F0NkV0XXWm6-fmIx_pAbVzOvULrgEAd9eyY7AMOEzNWwt94AojC1vZilj96V7kWhB7Oq0mhgG3/s2048/IMG_3414.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="391" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgABLQfdph2VSJQvYp2Bunj4U49miB1dCXimHwNy_i5wAPibaoaGR3OeMVY62EOvsdQw1F0NkV0XXWm6-fmIx_pAbVzOvULrgEAd9eyY7AMOEzNWwt94AojC1vZilj96V7kWhB7Oq0mhgG3/w521-h391/IMG_3414.jpg" width="521" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Uma <i>banda sonora</i> para um filme invisível, maior do <span>que </span>o espaço real o contém. Que transporta o visitante para fora dos limites materiais do espaço físico onde a exposição foi montada.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Uma <i>instalação</i>, moldada a partir do som matéria plástica, que se articula com o espaço visual existente, dando-lhe uma quarta e inusitada dimensão.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><span class="Apple-converted-space">Um <i>guia sonoro</i>, que contém informação preciosa, um catálogo rico e diversificado, impossível de exibir nas paredes, painéis e quadros que estão expostos ao público, que assim permitem, eles também, uma outra leitura, menos tradicional.</span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><span class="Apple-converted-space">O documento audio-visual produzido neste Centro, produzido ao vivo, pelo próprio visitante, pela sua própria acção, é uma forma nova e particularmente enriquecedora de desfrutar este tipo de espaço. </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">É quase um museu dentro de um museu, dinâmico, vibrante, funcionando no contexto da tensão criada pela dimensão visual e sonora. </span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Tudo isto é tornado possível pelo uso de um sofisticado sistema de áudio-guias.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Os áudio-guias funcionam aqui como a <i>régi</i>, os bastidores e o palco de todo este complexo sistema. Poderia pensar-se que este seria um sistema que introduziria limitações, confinado por razões técnicas e de segurança, a uns simples auscultadores, ainda que especiais. Nada disso. O que os áudio-guias proporcionam é a entrada num novo universo, uma realidade, real na sua virtualidade, produzida no contexto dos mecanismos particulares da escuta e na tensão gerada com o espaço visual.<span class="Apple-converted-space"> </span></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Mas o que, no final, todo este conteúdo e recursos garantem é, certamente, uma fascinante experiência, nova, multifacetada, única. Uma experiência que repousa na escuta individual, mas que não bloqueia os ecos do espaço circundante e afina os outros sentidos para os desafios que o Centro propõe. Uma experiência que, embora íntima, não priva o indivíduo da participação numa sua partilha colectiva.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;"><br /></span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy_XpXsdCGbLeTeBWuUPg-BZFd6VZOmk7MHNrO9cQkl-nHtNi2LvKgxmWI8nUTfzsNWT75ySnGRtGA5iJtJJSxODj75f1rvm4h_umAZiQnZcs2T9Js4VtvhaNdTkvPGbMsdNlH0B6UPnQh/s2048/IMG_3424.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="399" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgy_XpXsdCGbLeTeBWuUPg-BZFd6VZOmk7MHNrO9cQkl-nHtNi2LvKgxmWI8nUTfzsNWT75ySnGRtGA5iJtJJSxODj75f1rvm4h_umAZiQnZcs2T9Js4VtvhaNdTkvPGbMsdNlH0B6UPnQh/w532-h399/IMG_3424.jpg" width="532" /></a></div><br /><span class="s1" style="font-kerning: none;"><br /></span><p></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">O resultado final deste projecto constitui uma solução que, não sendo quiçá (não sei) pioneira, é, seguramente, muito pouco habitual, única, certamente, entre nós. Uma solução única para uma história única.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Foi com um sentimento de orgulho e de enorme gratidão que encarei a oportunidade de dar corpo ao conceito de dimensão sonora deste Centro Interpretativo da Cidade de Évora, que a sua coordenadora imaginou e me ofereceu. Foi um privilégio ter concebido e dirigido a realização deste projecto tão especial.</span></p><p class="p1" style="font-family: Helvetica; font-stretch: normal; font-variant-east-asian: normal; font-variant-numeric: normal; line-height: normal; margin: 0px;"><span class="s1" style="font-kerning: none;">Fica, finalmente, um convite para visitar a cidade e ouvir, com os seus ouvidos, este magnífico Centro Interpretativo da Cidade de </span>Évora.</p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-46921420787895679002021-02-23T14:26:00.003+00:002022-10-07T23:25:33.542+01:00A história de uma canção<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKxLETECZM-7otP6YXGAR0inMdVGMG-lIr7NS1uH04oQJgL1yf3wzQjNcsf50H0d_JZ_4zzuVqx7ArPOhYU00gryo081nFHdRlePfsl94K-J9vVlapH7oKenV0gYaMVgH9hlQIlHVHz2t5/s960/Nash.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="171" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjKxLETECZM-7otP6YXGAR0inMdVGMG-lIr7NS1uH04oQJgL1yf3wzQjNcsf50H0d_JZ_4zzuVqx7ArPOhYU00gryo081nFHdRlePfsl94K-J9vVlapH7oKenV0gYaMVgH9hlQIlHVHz2t5/w228-h171/Nash.jpg" width="228" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunhNqYZ9ZP_u1BoPy4zteOky70t7BrUvair3v4tTgF3HyfyXzBxSx3HHJIqwXACJYzwagaojhCSHXxHlJ3yQW_peYIhbzcIXHoADBcy4qQrmK0YFxv6ZIg7XLfI3Yn3e6SQ9KmwmPgjgW/s960/Joni.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="167" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhunhNqYZ9ZP_u1BoPy4zteOky70t7BrUvair3v4tTgF3HyfyXzBxSx3HHJIqwXACJYzwagaojhCSHXxHlJ3yQW_peYIhbzcIXHoADBcy4qQrmK0YFxv6ZIg7XLfI3Yn3e6SQ9KmwmPgjgW/w224-h167/Joni.jpg" width="224" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU4yOss23j8gMY0ttSRJLVMiTV9pf7sS_dCugxbEKYY3AV0OVNvnR8iaEIU3P8jkIpePcAnfdN-pI4Nmw0PIfgy4_80U4ooAP3UcCuUpvYrSdfP3hLbtFCRYXHc6ouzSrzokYwXOR7DrIo/s590/Joni_Graham-Diltz.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="385" data-original-width="590" height="142" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU4yOss23j8gMY0ttSRJLVMiTV9pf7sS_dCugxbEKYY3AV0OVNvnR8iaEIU3P8jkIpePcAnfdN-pI4Nmw0PIfgy4_80U4ooAP3UcCuUpvYrSdfP3hLbtFCRYXHc6ouzSrzokYwXOR7DrIo/w226-h142/Joni_Graham-Diltz.jpg" width="226" /></a></div><br /> <p></p><p><span face="system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif" style="background-color: white; color: #050505; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">No magnífico documentário passado há dias na RTP2 (de 2018), a propósito do 75º aniversário de Joni Mitchell, há um curtíssimo momento, que conta uma história complexa. Graham Nash (por quem eu vim a ter muito menos admiraração do que durante a minha juventude, ao contrário de Joni...) canta <i>Our House</i>, uma canção que escreveu para ela em 1970. Ele tinha 27 anos, ela tinha 26. No final, visivelmente nervoso, levanta-se do piano, lança um olhar furtivo em direcção a Joni e sopra, aliviado. </span><span face="system-ui, -apple-system, system-ui, ".SFNSText-Regular", sans-serif" style="background-color: white; color: #050505; font-size: 15px; white-space: pre-wrap;">Joni olha-o, ao longe e diz tudo.</span></p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-11228724407230336262020-12-24T13:20:00.006+00:002022-06-07T00:27:45.031+01:00O novo normal<p style="text-align: center;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR3x0ws6TnhGrjXbsqGQYaO-aub65uu2ovGgd2lN8ixTIHHbHo6nR6UUGYi7FlVTV-3wE4ewIyLfOj-JSmtsDUxdPur-wyXS6dS5rc32SHHpw-2bou2phDR6eLdDeXaik95akYsbAPO8Fk/s640/Esteva.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="447" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgR3x0ws6TnhGrjXbsqGQYaO-aub65uu2ovGgd2lN8ixTIHHbHo6nR6UUGYi7FlVTV-3wE4ewIyLfOj-JSmtsDUxdPur-wyXS6dS5rc32SHHpw-2bou2phDR6eLdDeXaik95akYsbAPO8Fk/w335-h447/Esteva.jpg" width="335" /></a></div><span style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; font-size: 12px;"><br /></span><p></p><p><span style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; font-size: small;"><span style="font-size: large;">A</span> esteva (<i>Cistus ladanifer</i>) é uma planta muito comum em Portugal. A época da floração decorre entre Março e Junho. Nessa altura, os campos e os caminhos ficam marcados por extensas zonas cobertas pela sua flor branca e algumas pessoas referem-se-lha até como a “neve,” porque, de facto, faz lembrar um nevão tardio. São lindíssimos os campos cobertos de flor de esteva. Pessoa muito querida, todos os anos me manifestava um singelo e comovente, mas muito poético, espanto perante o espectáculo, sempre igual mas sempre renovado, desta neve-esteva. </span></p><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">A foto que acompanha este escrito foi tirada hoje, dia 24 de Dezembro de 2020. </span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">São as primeiras flores de esteva. </span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Estamos em Dezembro....</span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Este é o ano da covid19, do vírus que era e que não era, dos estados de emergência on-off, das flores de esteva prematuras, dos crimes ambientais impunes, da miséria, das desigualdades e injustiças geradas por um sistema de que tantos beneficiam para prejuízo de tantos mais. O ano das escolhas, entre a injustiça escancarada, à vista de todos, e, perante ela, do quase generalizado assobiarismo--para-o-lado, a que também podemos chamar, talvez com mais propriedade, de cobardia criminosa. </span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Este é também o ano em que tanta gente vestiu, agora sem qualquer sombra de vergonha de a exibir, uns, a roupa da estupidez sem limites e, outros, do oportunismo mais miserável, sem quaisquer escrúpulos. </span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Ficará como sendo o ano do perdão a gente que devia ter sido encerrada em manicómio de alta segurança, imobilizada em câmara de dessensiblização, metida em colete de forças bem apertado e altamente sedada para não causar mais dano. </span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Gente parida na “normalidade,” que já vinha de trás, uma “normalidade” que tantos ainda desejam retornar.</span></div><div style="caret-color: rgb(0, 0, 0); font-family: Helvetica; text-size-adjust: auto;"><span style="font-size: small;">Por tudo isto, desejo uma excelente quadra natalícia e um ano novo profundamente anormal...</span></div><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-86591941472305450492020-04-25T00:25:00.003+01:002022-06-07T00:28:03.391+01:00O SOM DO CRAVO<div class="p1">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiecl6MZTJsgzjTd4lkF0AVD98KYtBCpUhM7siAXVXyYZ3yPruANO4BaBuGkq-Mre22dpBuu1N-MwwGp9JWkxrxPjpLRjRbtHxoorZfAIJSc93VLhTbvw6UZj3UpmdGuE6IicH4-CXRriKX/s1600/VieiradaSilva.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1169" data-original-width="736" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiecl6MZTJsgzjTd4lkF0AVD98KYtBCpUhM7siAXVXyYZ3yPruANO4BaBuGkq-Mre22dpBuu1N-MwwGp9JWkxrxPjpLRjRbtHxoorZfAIJSc93VLhTbvw6UZj3UpmdGuE6IicH4-CXRriKX/s400/VieiradaSilva.jpg" width="251" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<span style="font-size: large;">U</span>m concerto em três tempos.</div>
<div class="p1">
<i><br /></i></div>
<div class="p1">
<i>1º tempo</i></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">No princípio era o silêncio. O pensamento abafado, a voz muda, o segredo, </span>o
degredo, a clandestinidade. “Se fores preso, camarada”... Portugal
vivia em silêncio. Um silêncio que se vinha instalando desde tempos
remotos da história, um silêncio também garantido pelo crepitar dos
autos de fé. </div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Fé.
No final de 1973, início de 1974, acreditei (e continuo a acreditar!)
que a educação musical é um factor de libertação. Que pela via da música
todos podemos atingir o nosso apogeu, todos podemos ser melhores seres
humanos. A experiência pedagógica, fugaz, que tive nessa altura,
imediatamente antes do 25 de Abril, parecia confirmar que o meu credo —
de que a música deveria fazer parte do currículo escolar, não do modo
acessório como acontecia até então, mas como disciplina fundadora — é
uma ideia razoável, para cujas bases queria contribuir. Silenciaram-me,
de forma patética, nestes propósitos.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Havia
tempo que tinha mergulhado num universo musical caótico e esta
componente pedagógica, que logrei pôr, pela primeira vez e de forma
modesta, em prática ainda antes de Abril. Ainda que por breves
instantes e de forma incauta, ela resultava de uma reflexão sobre esse
caos, era uma espécie de destilação desse caos, que mais não era, por
sua vez, que um acto de resistência, um esforço pessoal de exigência de
liberdade e de crença na capacidade de transformação da sociedade
através da música. Este universo musical caótico foi a minha tentativa
de romper com o silêncio. A componente pedagógica era a emanação audível
desse processo.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Ao
mesmo tempo, perguntava a mim próprio aonde nos poderia levar toda a
amplitude criativa e estilística que na altura existia, de cuja
influência também não escapei. Perguntava para que serviria todo aquele
novo ferramental sonoro, que já então despontava, a que eu tinha
finalmente acedido e que começava a dominar a prática musical. Para que
serviria tudo aquilo se não existissem ouvidos para ouvir a nova música?
Como viabilizá-la? Todas estas perguntas tinham como resposta o
silêncio. </span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<i><span class="s1">2º tempo</span></i></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">O
25 de abril apanhou-me no meio destas perguntas sem resposta, mas
revelou-me, de imediato, uma enorme quantidade de respostas sem
pergunta. Para perguntas que nem sequer tinha imaginado. Tudo parecia
então possível. Todos os sons pareciam poder suceder a todo aquele
silêncio. Mas essas possibilidades não serviram para me dissipar as
dúvidas. Todas as dúvidas eram também agora possíveis.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Um
dia, regressava a casa bem tarde, e fui surpreendido por um intrigante
acontecimento sonoro. Uma nuvem sonora composta pelos ténues sons de
milhares de pequenos insectos </span>que, na altura, não consegui identificar com rigor, produzidos talvez pela <i>Tettigettalna aneabi</i>, que soa <a href="http://www.cicadasong.eu/tibicinidae/tettigettalna-aneabi.html">assim</a>.
Não é possível descrever o efeito de milhares destes insectos
espalhados por uma área sensivelmente do tamanho de um campo de futebol.
Façam, por favor, um esforço de imaginação. A tentação de usar aqui a
metáfora do pirilampo é grande. Em vez das luzes, imaginem-se "cliques".
Mas não, não vou cair nessa tentação...</div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Fiquei
ali quieto durante muito tempo a ouvir aquele deslumbrante espectáculo
sonoro. Lentamente fui percebendo que a música que eu procurava estava
ao alcance do meu ouvido. Pré feita. Perfeita. Em vez de me preocupar
em introduzir mais sons no ambiente, de meter mais som ao barulho, devia
talvez prestar mais atenção ao som, aos sons, que me rodeavam.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">O
próprio 25 de abril, que se ia desenrolando na altura à nossa volta,
era feito de sons que, de forma subtil, se iam enraizando em nós e
exigiam, foi-se percebendo, constante capacidade de interpretação. A
Revolução tinha começado com o som da rádio. Foi o sinal sonoro das
canções que deu início às operações. Depois foi o som das marchas
militares. De seguida vieram as vozes dos locutores com a leitura dos
comunicados do MFA. “Aqui posto de comando do Movimento das Forças
Armadas”. E novamente as marchas militares, designadamente uma, chamada
“Life On the Ocean Wave”, que ficaria conhecida como a “marcha do MFA”.
Essa foi a sonoplastia original do 25 de abril. Rapidamente se lhe
sobrepuseram os primeiros gritos de liberdade, os (poucos) tiros, as
primeiras palavras de ordem, os primeiros discursos, os primeiros
comunicados. Por cima dessa sonoplastia original foram-se inscrevendo as
vozes dos protagonistas da Revolução, cujo timbre ficou para sempre
gravado na memória auditiva de todos nós, os que vivemos esse momento.
As músicas antes proibidas tocavam agora continuamente, como uma <i>jukebox</i>
que adornava o nosso quotidiano. O grito das reivindicações era o coro
que marcava os momentos de tensão. Os passos da “Grândola” ouviam-se
firmes, num crescendo inexorável, e pareciam marcar a vida de toda a
gente. Ritmos que trocavam o passo a uns e acertavam o passo a outros.
O 25 de abril foi uma empolgante paisagem sonora. O cravo soava bem.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Foi
com o 25 de abril que aprendi verdadeiramente a escutar o mundo à minha
volta. Com o meu gravador ao ombro e de microfone em punho, aproveitei
para calcorrear quilómetros e registar tudo o que produzia som. O mundo
ouvido começou a ter um significado diferente desde então. Dei-me conta
que todos os sons estavam ainda por descobrir. O 25 de abril veio-me
provar algo que eu já intuia: que era possível entender melhor o mundo
escutando-o.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<i><span class="s1">3º tempo</span></i></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Um
dia uma bomba rebentou, com enorme estrondo, nos emissores da rádio. De
instrumento da revolução, a rádio passou a obstáculo que era preciso
demolir. Silenciá-la com estrondo foi a solução. E ao estrondo seguiu-se
a imposição de um novo silêncio. Um outro 25, a querer restaurar velhos
métodos. Eu próprio fui vítima desta tentativa de silenciamento, num
incidente caricato que envolveu uma guitarra eléctrica tomada por uma
G3.</span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">O
silêncio de antigamente, logo descobriram os promotores desse novo 25,
não era afinal possível. E o silêncio transformou-se em ruído. </span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">O
silêncio é a tela negra onde todos os temores se projectam. O ruído é a
tela branca que ofusca todos os pensamentos. Ambos, silêncio e ruído,
visam os mesmos objectivos: tolher movimentos, impedir a acção. Silêncio
e ruído são ferramentas do poder. É preciso ter poder para conseguir
impor silêncio ou manipular ruídos. É preciso capacidade de luta para
contrariar e vencer os seus efeitos. </span><br />
<br />
<span class="s1"><i>Dal 25 al CODA</i> </span></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<span class="s1">O
25 de abril significou, em grande medida, perceber o mundo sonoro à
minha volta. Teve o efeito de acelerar a capacidade de o escutar. A
capacidade de escutar é algo que considero ser a componente decisiva da
Democracia. Escutar para além do silêncio que não nos permite ter voz e
escutar para além da cacofonia que procura mascarar e confundir as vozes
necessárias. Bem escutar, para bem soar. Há anos que venho chamando a
atenção para esta verdade singela: só escutando será possível
desmascarar aqueles que pretendem silenciar a nossa voz, banalizá-la ou afogá-la num
mar de vozes que tornam a nossa inintelegível. </span><br />
<span class="s1"><br /></span>
<span class="s1">40 anos depois do 25A creio que ainda não ganhámos a
capacidade de nos escutarmos uns aos outros. Não escutamos os nossos
companheiros de jornada, sem os quais não atingiremos jamais o nosso
desígnio colectivo, e não escutamos, verdadeiramente, aqueles que apenas
nos pretendem confundir. Se os tivéssemos escutado, de facto, não
estaríamos como estamos. Eles disseram <i>tudo</i>.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Escutar é uma (talvez, a) exigência maior da Democracia, que Abril não conseguiu (ainda) ensinar.</span></div>
<div class="p2">
<br />
<br />
(Publicado no blogue <i>Face Oculta da Terra</i>, por ocasião do 40º aniversário da Revolução de Abril. A ilustração é a reprodução do cartaz <i>A Poesia Está na Rua</i>, da pintora M. H. Vieira da Silva.)</div>
<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-1225937508596625702020-03-28T18:53:00.002+00:002022-06-07T00:28:38.454+01:00Carta de um vírus em vilegiatura<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBS605d5YLysqi2YEWM0vm5MOXN7LdC1Jb70jyb_iNQYcLWnfRbdp1i_kiJPjy2RPbXoXjbtBNJO_csLAG7U1mfs0de83gaM-N7udTSgjU560wV4miWMxrQa9RcWwtJoBgOtnHhwTsUwc/s1600/Genoma.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="834" data-original-width="1440" height="231" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBS605d5YLysqi2YEWM0vm5MOXN7LdC1Jb70jyb_iNQYcLWnfRbdp1i_kiJPjy2RPbXoXjbtBNJO_csLAG7U1mfs0de83gaM-N7udTSgjU560wV4miWMxrQa9RcWwtJoBgOtnHhwTsUwc/s400/Genoma.jpg" width="604" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><div class="page_title">
<span style="font-size: x-small;"><i>Genoma do do coronavirus, 2019-nCoV de Wuhan (Instituto Pasteur)</i></span></div>
</td></tr>
</tbody></table><p> </p><p><span style="font-size: large;">V</span>iva, estou a falar-te daqui do meio do muco que enche os alvéolos pulmonares de um tipo qualquer — não faço ideia quem seja. <br />
É mais um. <br />
Não me consegues ver, mas eu vejo-te muito bem.<br />
Não me consegues ver, não nos consegues ver, mas nós estamos a ver-vos e somos muitos. <br />
Somos, aliás, cada vez mais. Vamos sendo cada vez mais. Graças a ti e à tua estupidez. <br />
Estamos a fazer exactamente aquilo que muitos de vocês fazem: a lutar pela sobrevivência, seja de que maneira for. <br />
Mas temos uma enorme vantagem sobre vocês. <br />
Tu, mesmo com os teus poderosos microscópios, mesmo com os teus sofisticados sequenciadores, não atinas comigo. <br />
Eu já te tirei o retrato. De corpo inteiro.<br />
E já percebi tudo o que me interessa sobre ti. <br />
Mesmo
que, aparentemente, tenhas sobre mim a vantagem de uma vida mais longa e
os recursos que resultam do carácter poliforme do teu organismo, não
tens hipótese comigo. <br />
Nós fazemos rigorosamente apenas o que é
necessário, unimo-nos, multiplicamo-nos e reproduzimo-nos mais depressa
do que tu poderás alguma vez fazer. Somos mais ligeiros, mais simples e
menos dados a distracções do que tu. <br />
Estamos totalmente focados na nossa tarefa.<br />
E estamos por todo o lado. <br />
À espreita. <br />
À
primeira oportunidade vamo-nos agarrar a cada superfície do teu
ambiente, a cada peça da tua roupa, vamos pousar em cada ponto do teu
corpo, vamo-nos infiltrar por cada um dos teus tecidos, vamo-nos meter
por cada um dos teus poros, furar as paredes de cada uma das tuas
células. Vamos andar pacientemente à procura de cada uma dessas
entradas. A nossa vida consiste em aprender como.<br />
Só fazemos isso. Temos tempo. <br />
Tu não.<br />
O
tempo que andas a perder com discussões inúteis, é o tempo que nós
vamos aproveitar para te aniquilar. Não sobrará um único de vós. <br />
Estavas
talvez à espera de um meteoro? Algo vindo do além? Um “castigo” de uma
qualquer divindade, dessas que vocês gostam de criar para vos consolar
nas vossas frustrações? <br />
Pois, não te canses mais.<br />
Nós já aqui estamos.<br />
Mesmo ao teu lado. Não nos viste?<br />
Estamos aqui mesmo.<br />
À espreita.<br />
A vigiar as tuas células.<br />
<br />
Não vai sobrar um único de vocês. <br />
E tu estás a ajudar, felizmente. Oh se estás!<br />
A cada dia que passa, verifico que a tua ajuda é preciosa. Nem sei o que faria sem ela…<br />
Tudo
o que podias fazer de errado, fizeste-o no passado e continuas a
fazê-lo agora. Estragaste tudo à tua volta. Mas, sobretudo, estragaste
aquilo que te trouxe ao ponto em que estás — os teus laços com os
outros. <br />
Que bom que andem agora todos às cotoveladas!<br />
Juntos, tu com os outros, sois imbatíveis. Mas, felizmente, fizeste tudo para quebrar esses laços. És tão estúpido!<br />
E eu estou tão feliz por o seres.<br />
Porque isso facilita imensamente a minha tarefa.<br />
E traz cada vez mais lutadores para o meu exército.<br />
Exército, sim.<br />
Porque é, de facto, uma guerra que aqui estamos a travar. Mas tu vais perdê-la! <br />
Repara como consigo liquidar já, sem qualquer dificuldade, os mais velhos. É canja. Consegui perceber logo isso.<br />
Mas, não te iludas! Tu, falo contigo, jovem, vais a seguir! <br />
Vou
continuar a aprender e, em breve, nem os que ainda estão para nascer vão sobrar. A
estupidez não vos vai permitir ter tempo para perceber como é que nós <span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">vos vamos liquidar a todos, </span>com toda a facilidade, velhos, novos ou fetos.<br />
A estupidez não escolhe idades, e a tua idade não vai, de facto, ser impedimento para eu concluir a minha tarefa.<br />
Nem há locais ou situações privilegiadas para te defenderes de mim. <br />
Não deixaremos de cumprir o nosso destino. E tu? Qual é o teu?<br />
</p><div>
<span face=""helvetica neue light" , , "helvetica" , "arial" , sans-serif">Nós, tu e eu, estamos intimamente ligados, desde os tempos mais remotos. Os nossos destinos parecem desde sempre ligados. Não penses, portanto, que te vais livrar facilmente de mim.</span><br />
<div>
<div>
Seja onde for, seja quem for, mais hora menos hora, repito: não vai sobrar um único de vocês! <br />
<br />
A menos que…<br />
<br />
A
menos que, para meu azar, resolvas emendar a mão. E percebas que, sem
vocês, nós também não vamos longe e que isto é uma guerra que, nem nós
poderíamos ganhar sem a vossa existência. É que nós precisamos de vocês,
mas vocês não precisam de nós, para nada.<br />
Já viste?<br />
O que estás a fazer então?<br />
O
que andas para aí a fazer, a perder tempo em vez de restabeleceres os teus laços com
os outros? De trabalhares para os outros, como trabalhas para ti? <br />
Talvez assim me conseguisses ver, finalmente, <br />
Talvez assim conseguisses virar o desfecho desta fatalidade. <br />
Mas, por enquanto, apenas eu te vejo a ti.<br />
Não me consegues ver, a mim, é verdade, mas consegues ver os outros, teus semelhantes, à tua volta. <br />
Repara como estão vivos. Repara como, no fundo, querem todos continuar vivos como nós.<br />
Pensas que algum desses, que vês à tua volta, quer morrer às minhas mãos?<br />
Oh que ingénuo! Todos querem o mesmo que tu. <br />
A
única diferença entre vocês, é que pensas que só tu tens o poder de escapar
às consequências da minha luta pela sobrevivência. Que te vais safar. Mas, como te disse
antes, não vais. Só terás o poder de te veres livre de mim se assumires que o não podes fazer contando
apenas contigo. <br />
Eu sou muito mais esperto que tu. A minha
luta por permanecer vivo resume-se, simplesmente, a criar mais de nós. Por outro lado, repara, não há, entre
nós, velhos e novos, pretos e brancos, ricos e pobres, do norte ou do sul. Somos muitos,
somos rigorosamente iguais e, graças a ti, seremos sempre quantos formos necessários para
sobreviver. É por isso que somos imbatíveis.<br />
Cada
um de vocês que tu, com a tua estupidez, sacrificas à minha
determinação, é alguém que não vais poder substituir. Que te poderia ajudar. Alguém diferente.
Alguém que te poderia talvez ajudar precisamente por ser diferente. É nisso que reside o teu poder, não vês?!<br />
Nós estamos todos focados no mesmo objectivo e cada um de nós que tomba será
substituído, à tua custa, por alguém exactamente igual a mim, com a
mesma determinação, o mesmo propósito e a mesma sanha por te sugar o último traço do teu
ADN.<br />
Eu estou focado e só me interessa uma coisa. Cada um de nós
que desaparece é substituído por uma multidão de outros, que toma o
nosso
lugar e se junta aos outros nesse propósito. É o nosso foco que mantém, justamente
as nossas fileiras em crescimento. É o nosso foco, único, que nos dá a
força de que precisamos. O teu
foco enfraquece-te. <br />
Vê os que estão à tua volta. Ou melhor,
ouve-os! Ouve-os, a sério. Ouve-os como ouvias quando andavas a dar os
teus primeiros passos nesta Terra. Eles dizem tudo o que é preciso saber
para mudar o rumo das coisas e tu já não sabes ouvi-los. <br />
Talvez ainda haja tempo. Mas apressa-te porque eu viajo ligeiro. Quase nada pode impedir o meu desígnio.<br />
Eu
e os meus irmãos temos a simplicidade das coisas que perduram, que se
adaptam, que resistem. Vimos de longe. Temos o foco, o espaço e todo o tempo do mundo.. <br />
E tu?</div>
</div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-87255030899155841442020-02-24T20:02:00.004+00:002022-06-07T00:29:37.445+01:00Sassaricando<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4im7RyAm_c_P4c3Be_Ub_1L9PqyKCc8J0UNeLytgP9MshyphenhyphenumbVuoLuB5FLRnT6qYSzJVRid4vFWFwcdXcXzlZdF73MEU-vhMwXNEulIZ5J0ToQpOxC1VZ1HcgB3vqpLuZYu3oDGYh9tRl/s1600/IMG_2647.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="480" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi4im7RyAm_c_P4c3Be_Ub_1L9PqyKCc8J0UNeLytgP9MshyphenhyphenumbVuoLuB5FLRnT6qYSzJVRid4vFWFwcdXcXzlZdF73MEU-vhMwXNEulIZ5J0ToQpOxC1VZ1HcgB3vqpLuZYu3oDGYh9tRl/s400/IMG_2647.jpg" width="300" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "helvetica"; font-size: 12px; font-style: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">Uma das cornetas, colocada aqui numa rua de foliões, com o hospital em fundo</span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "helvetica"; font-size: 12px; font-style: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"></span></div>
<br />
<span style="color: black; display: inline; float: none; font-family: "helvetica"; font-size: 12px; font-style: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: large;">B</span><span style="font-size: small;">enavente é a sede do concelho onde resido vai para 13 anos. É uma vila pacata, cheia de gente muito boa. </span></span><span style="font-size: small;"><br />
</span><div style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Helvetica; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: start; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-size-adjust: auto; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: small;">
Periodicamente, Benavente sai do seu torpor e faz-se ouvir.<br /></span>
<div><span style="font-size: small;">
Quem ler isto perguntará: faz-se ouvir? O quê, faz ouvir a sua voz? Faz sentir as suas reivindicações? Vocaliza com veemência a defesa dos valores das suas gentes? Pugna sonoramente pelos seus direitos? </span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Não! Planta umas cornetas acústicas, dessas do tipo que se usa nas feiras, pelas ruas da vila e faz soar umas coisas a que podemos atribuir, com enorme dose de boa vontade, uma vaga parecença com música. Com isto azucrina os ouvidos dos fregueses, sem que estes tenham direito ao contraditório, i.e., sem escapadela possível. Esperemos que, cumprida a sua missão, esse material seja, entretanto, retirado mais rapidamente que o foram as decorações de Natal...</span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Passar nas ruas de Benavente durante os períodos das “festas” (acontece no Natal, no extenso período de “festas" de verão e, agora, no Carnaval) é um exercício penoso. Os altifalantes são espalhados de forma estratégica, por forma a ferirem de morte os ouvidos dos incautos moradores ou frequentadores do comércio local. Assim, certeiros, para que o processo de ensurdecimento seja fatal e 100% eficaz. Nesta altura, a este "sambódromo" plantado aqui na lezíria, ninguém escapa!<br /></span>
<div><span style="font-size: small;">
Desta "barrage" estrepitosa, disparada pelas autoridades locais com o apoio do comércio, como indica a voz do locutor de serviço, ficam duas grandes interrogações, que gostaria de colocar à reflexão de todos.</span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Primeira: a Câmara é a entidade a quem cabe licenciar e controlar, em primeira mão, as actividades ruidosas na via pública.<br /></span>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="background-color: white; font-size: small;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgubAFHvXDhjfRBsZfkm_dNIDuK5b5rEHhp9Q3V1uQEst4H7D_nVhRUfTCX4FlqfZYXuMA_CCE8wGazLcORZp7Kz7qgAKcRctsieATSSkuBxQYz_-iAl2j0dzugWDqKpUiIfo-2KjzC2n6L/s1600/IMG_2652.PNG" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1334" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgubAFHvXDhjfRBsZfkm_dNIDuK5b5rEHhp9Q3V1uQEst4H7D_nVhRUfTCX4FlqfZYXuMA_CCE8wGazLcORZp7Kz7qgAKcRctsieATSSkuBxQYz_-iAl2j0dzugWDqKpUiIfo-2KjzC2n6L/s320/IMG_2652.PNG" width="179" /></a></span></td></tr>
<tr align="center"><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="background-color: white; font-size: small;">Uma leitura do nível sonoro feita de manhã,</span><span style="font-size: small;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: small;">onde se verifica um pico de quase 90 dB.</span><span style="font-size: small;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: small;">A leitura é informal porque não foi reaizada com</span><span style="font-size: small;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: small;">um sonómetro calibrado,</span><span style="font-size: small;"><br /></span>
<span style="background-color: white; font-size: small;">mas dá uma indicação... </span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
<div><span style="font-size: small;">
Diz o DL n.º 9/2007, de 17 de Janeiro que:</span></div>
<div><span style="font-size: small;">
"1 - (…) A realização de festividades, de divertimentos públicos e de espectáculos ruidosos nas vias públicas e demais lugares públicos nas proximidades de edifícios de habitação, escolares durante o horário de funcionamento, hospitalares ou similares, bem como estabelecimentos hoteleiros e meios complementares de alojamento só é permitida quando, cumulativamente:<span class="Apple-converted-space"> </span><br />
a) Circunstâncias excepcionais o justifiquem;<span class="Apple-converted-space"> </span><br />
b) Seja emitida, pelo presidente da câmara municipal, licença especial de ruído (…)"</span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Registe-se que ela tem de ser "emitida, pelo presidente da câmara municipal” e pergunte-se: onde está a circunstância excepcional? </span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Ora é esta CM que está a promover, ela própria, actividades ruidosas. Pergunte-se, de novo: quando tiver de intervir para regular as actividades ruidosas de outrem ou tiver de dirimir alguma situação de conflito entre benaventenses, motivada por um qualquer problema de ruído, fa-lo-á com base em que autoridade? </span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Como me dizia o proprietário de um restaurante — bafejado com a distinção de ter uma dessas cornetas de feira a despejar sambinhas sobre os seus clientes, a ponto de um deles aventar a possibilidade de ir buscar uma caçadeira e pregar dois tiros na dita corneta — “pois é, se formos nós a fazer um bocado mais de barulho (dentro do estabelecimento!), passado uma determinada hora, não escapamos à multa.”</span></div>
<div><span style="font-size: small;">
Segunda: este concelho contradiz o que se passa noutros concelhos do país, onde a cultura merece apoio e mostra um dinamismo digno de nota. Aqui, o mais próximo de cultura, a que os benaventenses parecem ter direito a aceder, são umas cornetas de feira espalhadas pela vila a emitir uma espécie de ruído, a que os mais distraídos poderão chamar música. Regularmente, para sair do torpor e fazer prova de vida. E o resto?</span></div>
</div>
<div><span style="font-size: small;">
Nesta altura da história da Humanidade, em que as disfunções ambientais atingiram um ponto que faz soar todos os alarmes, valeria a pena recordar que o ruído foi o primeiro sinal, ouvido há decénios, de que algo estava mal. Foi a primeira disfunção ambiental, objecto de significativo e justificado clamor, silenciado em nome do “progresso”. Houvesse ouvidos para o ouvir e bom senso para interpretar o seu significado e não estaríamos hoje como estamos. Por detrás dos índices escandalosos de emissões de gases tóxicos e por detrás das contaminações assassinas, estavam e estão máquinas e actividades humanas criminosas, que já há muito geravam ruído fora dos limites do humanamente tolerável e muitas queixas não atendidas. Depois veio o CO2, os plásticos, etc. em excesso. Mas antes do excesso já se tinha ouvido o excessivo som das máquinas que agora produzem esse excesso. Ninguém pareceu ligar então patavina ao ruído e até foi promovido para dar uma imagem de modernidade. Pensem nisso…</span></div>
</div><span style="font-size: small;">
</span><div style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Helvetica; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: start; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-size-adjust: auto; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div><span style="font-size: small;">
</span><div style="-webkit-text-size-adjust: auto; -webkit-text-stroke-width: 0px; caret-color: rgb(0, 0, 0); color: black; font-family: Helvetica; font-style: normal; font-variant-caps: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; orphans: auto; text-align: start; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-size-adjust: auto; text-transform: none; white-space: normal; widows: auto; word-spacing: 0px;"><span style="font-size: small;">
PS- Em 2010 <a href="https://fragmentos-caa.blogspot.com/2014/05/a-camara-de-benavente-seguindo.html" target="_blank">deixei neste blog</a>, um aplauso para uma decisão da CMB, que ameaçava então impugnar a localização do Aeroporto de Alcochete, justificando essa atitude com o ruído que a nova infraestrutura iria gerar. Entretanto, o ruído, pelos vistos, deixou de ser problema para a câmara. Talvez as vereações tenha, entretanto, ficado surdas.</span></div>
<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-92214045942258528362019-07-20T18:18:00.010+01:002022-06-19T14:03:16.652+01:00Um Túnel de Vento cheio de emoções<p><i><span style="font-size: large;">T</span>únel de Vento</i> estreou no Festival Dar a Ouvir, edição de 2019. Foi uma experiência invulgar, com um desfecho absolutamente extraordinário, que me deu ainda a oportunidade de revisitar velhas amizades e de juntar novas.<br />
Obrigado a todos os participantes. As palavras que lhes dirigi, no fim, pecaram porque ficaram aquém da gratidão que sinto pela dimensão de excelência que deram a este projecto. Fica o compromisso de tentar repô-lo, o mais rapidamente possível, e de encontrar também outras formas de o manter presente.<br />
Obrigado a Alexandre Madeira. Obrigado aos coralistas do Coro D. Pedro de Cristo, obrigado especial a Cristina
Faria. Obrigado ao Quarteto de Metais da Filarmónica União Taveirense, obrigado a Daniel Tapadinhas. Obrigado a toda a equipa do Convento de
São Francisco, obrigado a José Carlos Meneses. Obrigado aos dois pássaros-actores Alexandre Cotrim e Catarina Francisco.<br />
Obrigado a todos os que vieram assistir e nos encheram o coração com a sua presença, a sua reacção emocionada, o seu aplauso e as suas palavras.<br />O Túnel de Vento estreou numa data sagrada para mim, que este ano, por causa desta estreia, não pôde ser convenientemente comemorada.<br />
E como os últimos são os primeiros: um destaque, acompanhado de um agradecimento muito especial, para a Catarina Pires.<br />
<br />
</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaJZ3UnpH_QQ_fBXaL9H49qAHUrITXKtf4ANH6H-Uo2kcFuGEHlzqM0ZB8Ghhva7K5Pd6OkWIFtjfMJFx18f9RniBZecrrWUUgwl-vd3S8HU7wuXmbbJasu7iDh6TVBL_94NFGOJXAMoN/s1600/Tunel1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="960" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVaJZ3UnpH_QQ_fBXaL9H49qAHUrITXKtf4ANH6H-Uo2kcFuGEHlzqM0ZB8Ghhva7K5Pd6OkWIFtjfMJFx18f9RniBZecrrWUUgwl-vd3S8HU7wuXmbbJasu7iDh6TVBL_94NFGOJXAMoN/s320/Tunel1.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">Coro D. Pedro de Cristo</span></i>
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJQh_XEf6UUAfhrP6n0Sed-K_DPG0pW2DlBSSL3ErlYhloTSNL_437Zn02sInTuV7eAkhq9tQPkbUNjeLxlJnHgbRS-fUg6uZaW1cUFZ94j_rGOxHtv1gVw5ya0_mZMwv0JsGissY9kP0R/s1600/Tunel2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="716" data-original-width="960" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiJQh_XEf6UUAfhrP6n0Sed-K_DPG0pW2DlBSSL3ErlYhloTSNL_437Zn02sInTuV7eAkhq9tQPkbUNjeLxlJnHgbRS-fUg6uZaW1cUFZ94j_rGOxHtv1gVw5ya0_mZMwv0JsGissY9kP0R/s320/Tunel2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">Alexandre Madeira</span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWnI7EhqD-m6kxB59X9pYeemWQU6CATF_Cpq4IW8_kaC7GhrunA1Rys9JAchzdEO_WNK87DMHnQ2OrsqILI6fydr_XkJc8yde-262MTeKUJ5CyAPW_uuQAwB8-3trWJumabZA4TeTAZIKf/s1600/Tunel3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="902" data-original-width="1600" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWnI7EhqD-m6kxB59X9pYeemWQU6CATF_Cpq4IW8_kaC7GhrunA1Rys9JAchzdEO_WNK87DMHnQ2OrsqILI6fydr_XkJc8yde-262MTeKUJ5CyAPW_uuQAwB8-3trWJumabZA4TeTAZIKf/s320/Tunel3.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: center;"><i><span style="font-size: x-small;">José Carlos Meneses e a equipa do CSF</span></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBd4Aw7odwb6OxtJM9UF1FolgbJrOgB1KzsuxkTTolomEitHyxl7Gcj_78ewnvP6wYF15Awv5YuqopPHLRLgm2NUiE2aI2XeDaz6Qergj31Vre7PJwQ54Qyh-2UotCfwSMJ5CMgFqto20/s1600/Tunel4.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="356" data-original-width="712" height="160" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqBd4Aw7odwb6OxtJM9UF1FolgbJrOgB1KzsuxkTTolomEitHyxl7Gcj_78ewnvP6wYF15Awv5YuqopPHLRLgm2NUiE2aI2XeDaz6Qergj31Vre7PJwQ54Qyh-2UotCfwSMJ5CMgFqto20/s320/Tunel4.jpg" width="320" /></a><span style="font-size: x-small;"> </span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Toda a equipa do Túnel de Vento</span></div><p style="text-align: center;"><br /></p><p>
<span style="font-size: x-small;">(fotos de ensaio CAA, a foto do agradecimento final é de Daniel Peixoto)</span></p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-43882458741595708052019-07-13T21:02:00.004+01:002022-06-07T00:30:07.769+01:00Túnel de Vento<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv1EXhJkR2iqp4Da13YfA4r-Cn8AJvoZfTNDtCn_Sry-zU-TfZTjbq_zUyVfxbki4ogR6QQYghilEePgnNvA1U0tkKThk7XpCFwuIWVA79RiZhon0QkQlHrc_B_Pf03oy8FjoqAEkVcdml/s1600/TVredux.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1067" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgv1EXhJkR2iqp4Da13YfA4r-Cn8AJvoZfTNDtCn_Sry-zU-TfZTjbq_zUyVfxbki4ogR6QQYghilEePgnNvA1U0tkKThk7XpCFwuIWVA79RiZhon0QkQlHrc_B_Pf03oy8FjoqAEkVcdml/s400/TVredux.jpg" width="266" /></a></div>
<span style="font-size: large;">S</span>e há algo que verdadeiramente nos une, a nós e à generalidade dos seres vivos na Terra, é o ar.<br />
O ar, esta mistura de gases que preenche todos os espaços do mundo que nos rodeia, alimenta a vida e a faz, literal e metaforicamente, mover.<br />
O ar, o fluído vital que assume diferentes formas e representa diferentes papéis. Pode ser o sopro primordial da vida do bebé, mas também a grande massa que se desloca de um ponto para outro do globo, levando tudo consigo nesse movimento. Pode ser o ar que sustém o voo delicado da ave ou a poderosa força motriz que produz a energia eléctrica que sustenta uma cidade inteira.<br />
O ar, que está presente no fôlego dos músicos, no voo dos pássaros, na voz dos cantores, no rodar das velas dos moinhos, no ondular das brisas e no poder das rajadas e dos ciclones.<br />
O Túnel de Vento é um projecto integrado no programa de 2019 do <i>Dar a Ouvir</i> que, ao longo de um percurso pelos diferentes espaços do Convento São Francisco (CSF), evoca e celebra as várias configurações que o ar vital assume.<br />
Tal como nos túneis de vento usados pelos cientistas e engenheiros, este transforma-se num lugar aberto à experimentação e à verificação.<br />
Os espaços do CSF, são de uma grande beleza arquitectónica e de uma riquíssima diversidade formal. O ar é o elemento que une estes espaços, algo mais que nos permite senti-los.
O Túnel de Vento é uma forma de os percorrer, um outro modo de os sondar e de os medir.<br />
Ao pôr a vibrar o ar que preenche todos os espaços do Convento, ouvindo-os, revelam-se as suas reverberações, as suas mais recônditas formas de ressoar e as formantes desta esplêndida arquitectura. Estamos a ensaiar uma outra maneira de verificar a sua diversidade. Uma forma, enfim, de dar destaque a uma característica, talvez, menos notória: a beleza do seu espaço acústico.<br />
Ao ouvinte-espectador, que vai ser guiado por um pássaro, pede-se que percorra estes espaços em silêncio, servindo-se apenas dos seus ouvidos.<br />
Desta forma, encontrará um modo diferente de apreender o espaço e, pelo caminho, poderá reflectir, através do som, sobre este polimorfismo do ar, as suas diferentes manifestações e o seu valor.<br />
Uma reflexão certamente necessária, perante os perigos a que hoje o próprio ar e as criaturas que o respiram estão sujeitos.<br />
<br />
<hr />
<br />
TÚNEL DE VENTO<br />
I <i>Eos</i>, a alvorada (claustro norte)<br />
II <i>Pássaros em Fúria</i>, o ar é a sua casa (corredor exterior poente)<br />
III <i>Beneventum</i>, os bons ventos que ajudam a produzir o alimento e a energia (antiga igreja)<br />
IV <i>Maleventum</i>, os ventos das poderosas forças da Terra (corredor nascente)<br />
V <i>Epílogo ex machina</i> (átrio da bilheteira)<br />
<i>Convento de São Francisco (Coimbra) dia 14 JULHO 2019. 19 h</i> <br />
<hr />
<br />
com:<br />
Alexandre Madeira
(saxofone soprano)<br />
<i>Quarteto de Metais da União Filarmónica Taveirense </i><br />
Daniel Tapadinhas (dir. e trompete)<br />
Pedro Santos (trompete)<br />
João Serrano (trombone)<br />
José Serrano (tuba)<br />
<i>Coralistas do Coro D. Pedro de Cristo</i><br />
Alberto Sismondini (B)<br />
Ana Patrícia Marques (S)<br />
André Pereira (convidado) (T)<br />
Brito Largo (T)<br />
Catarina Parente (S)<br />
Cristina Faria (dir. e C)<br />
Francisco Neves (T)<br />
Paula Campos (C)<br />
<i>Os dois pássaros</i><br />
Alexandre Cotrim<br />
Catarina Francisco<br />
<div class="page" title="Page 1">
<div class="layoutArea">
<div class="column">
<i><br /></i></div>
</div>
</div>
<i><br /></i>
<i>Agradecimentos: Catarina Pires, Teatro da Rainha, Avantools
</i><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-12657339499730975982019-03-24T16:15:00.007+00:002022-06-07T00:42:28.588+01:00Um manifesto sobre o essencial<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiruA3ocIWVVYt2FFoau-gOMenSjq6DyGdc_Nof7uGvPYCHndoLSkZypZoNjzxbh3yCmoSZ_D5f1mI_0wghy7LNRx2TtjqBBTs4VBeC6Md4xbuQu-f_pyj8AkKDC0p3O8_unDwr9uFsAu2h/s1600/ASN2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="930" data-original-width="1600" height="372" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiruA3ocIWVVYt2FFoau-gOMenSjq6DyGdc_Nof7uGvPYCHndoLSkZypZoNjzxbh3yCmoSZ_D5f1mI_0wghy7LNRx2TtjqBBTs4VBeC6Md4xbuQu-f_pyj8AkKDC0p3O8_unDwr9uFsAu2h/s640/ASN2.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-size: large;">N</span>uma análise, talvez simplista – mas quem sabe se a verdade não é, afinal, mais simples do que parece... –, eu dividiria as pessoas entre aquelas que agem, criam cruzamentos entre as suas acções e as dos outros, mantêm um permanente registo dessa dinâmica, juntam novas acções, fazem novos cruzamentos e sabem, a todo o momento, extrair o <i>essencial</i> de todo esse complexo diálogo.<br />
E há as outras. Aquelas que vêem a realidade como bolinhas de sabão. A bolinha forma-se, o olhar fascinado é atraído por ela, o olhar segue-a, a bolinha passa, a bolinha rebenta, venha outra.<br />
Este sábado, a <i>Associação dos Antigos Alunos do Liceu Nacional de Oeiras/Escola Secundária Sebastião e Silva</i> apresentou o segundo volume de "o Liceu". Mais um olhar sobre os anos daquela escola, por também eu onde passei, sobre os seus métodos, os seus alunos, os seus professores. A António Sampaio da Nóvoa, um condiscípulo do LNO, coube fazer a apresentação deste segundo volume. Da sua rica intervenção, a propósito desta nova publicação, ficou-me, entre muitas outras, a ideia que lançou sobre o isolacionismo que caracteriza os dias de hoje, feito de círculos individuais, dentro dos quais ninguém entra e de onde os indivíduos que neles se encerraram, quiçá sem disso se darem sequer conta, não saem. Círculos que não se tocam e que impedem, justamente, uma análise da qual se possa extrair o essencial, porque para o fazer é preciso conhecer muitos círculos, compreender a sua diversidade, entrar neles, ter a capacidade de os conseguir cruzar e extrair sempre o destilado de todo este processo. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNUyTHBdzTkuFCAHr9jKDvmXJuChkvptO2uHRa0BGKQurw8NN36W64OSzFEIzaTqW63CHwKR4y2OAmDNn1I2MvSCd_ZQzpwvZn1H3pzXlbAwrrd_Czn13ql_CbCCNFNs2rw1GFy9lDo3Ms/s1600/ASN1.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1479" data-original-width="1600" height="295" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNUyTHBdzTkuFCAHr9jKDvmXJuChkvptO2uHRa0BGKQurw8NN36W64OSzFEIzaTqW63CHwKR4y2OAmDNn1I2MvSCd_ZQzpwvZn1H3pzXlbAwrrd_Czn13ql_CbCCNFNs2rw1GFy9lDo3Ms/s320/ASN1.jpg" width="320" /></a></div>
Uma lógica a que chamaria "matriosca", esta, que eu cacracterizaria assim: de dentro de círculos surgem círculos, cada vez mais pequeninos, mesquinhos e estrangulados pelo círculo que os deu à luz. Uma lógica que sufoca, divide, isola, secciona, impede o cruzamento e faz definhar o conhecimento.<br />
A esta lógica “matriosca” eu oporia uma outra a que chamarei a lógica de Venn. Aqui, os círculos também se formam, mas agitam-se, fundem-se, cruzam-se, permitindo assim interceptar ideias, partilhar, destilar e extrair os tais valores essenciais. Os cruzamentos dão lugar a novos cruzamentos e ajudam a estabelecer novas categorias, apoiadas nas categorias anteriores. Assim se faz progredir o conhecimento.<br />
A nossa vida está hoje mandrionamente assente numa lógica "matriosca", enquadrada e dominada por um modo de produção que a favorece e promove. A lógica de Venn é difícil, opõe-se ao <i>status quo</i> e, ainda por cima, parecem ser cada vez mais raros os que têm capacidade de a praticar. O <i>progresso</i> é, historicamente, o resultado da prevalência de uma lógica de Venn nas sociedades.<br />
Ao ouvir as palavras de António Sampaio da Nóvoa, proferidas durante uma, aparentemente singela, apresentação de um livro, para um público preciso, restrito, longe de quaisquer câmaras, ao sentir de novo esta sua capacidade de extrair o essencial e, ao mesmo tempo, de o transmitir de forma muito clara – algo que só está ao alcance de quem conhece muitos círculos, se funde com eles, sem demagogia ou disfarce, e pratica a sua intercepção mútua, alguém entre o relojoeiro e o atleta de alta competição – voltou-me à memória a sedução que este seu discurso exerceu em mim em tempos não muito distantes. Sendo um discurso necessário, tem um potencial de mobilização tremendo, em contraponto ao discurso das bolinhas de sabão que, infelizmente, foi o que prevaleceu e até parece conquistar hoje alguns pontos fora do campo das matrioscas. <br />
Ao longo da vida, tenho conhecido gente capaz de cruzar círculos e reduzir a complexidade ao <i>essencial</i>. São raros, mesmo raros. É duro e nem todos se revelam capazes de aguentar este processo. Muitos se perdem. Dos poucos que têm esta capacidade, ainda temos de excluir os que não fazem os cruzamentos mais apropriados, subvertendo ou comprometendo, comprometendo, pelo menos a fiabildade dos resultados, o tal <i>essencial</i>. E ainda são mais raros aqueles que, da sua experiência, conseguem construir o que eu chamaria uma "pedagogia do essencial" e de a transmitir capazmente. O António Sampaio da Nóvoa é, claramente, alguém dotado de todas estas raras qualidades. Alguém de quem o País necessita urgentemente. <br />
<br />
<span style="font-size: x-small;">(fotos de Vasco Pitschieller)</span><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-88478353094796364582018-06-27T01:23:00.004+01:002022-06-23T14:50:42.577+01:00Acasos felizes que geram ECOS<span style="font-size: large;">U</span>ma experiência extraordinariamente positiva é como posso classificar este ECOS (versão Coimbra), que estreou no passado sábado 23, na emblemática Praça do Comércio. É a úlltima obra que escrevi, uma peça para seis percussionistas e seis pistas electrónicas, que funciona a três níveis.<br />
<br />
Os músicos e os altifalantes dispõem-se em volta do público, em dois círculos ou elipses (conforme a natureza do espaço) concêntricos. Existe, em primeiro lugar, uma partitura, escrita da primeira à última nota, a ser executada por cada instrumentista, que dispõe para o efeito de um pequeno conjunto de instrumentos de percussão. Os 6 instrumentistas executam as suas partes de forma articulada com as 6 pistas, que contêm o material sonoro de origem electrónica.<br />
<br />
A peça é dedicada a R. Murray Schafer, um dos meus grandes inspiradores de há longas décadas. De certa forma, ela evoca — pelo local onde teve lugar e pela própria ideia fundadora — o projecto que levámos a cabo juntos, há 15 anos, o <i>Coimbra Vibra!</i>, que tanto sucesso e repercussão internacional obteve.<br />
<br />
<div>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMPifF2oGcpBy0Fr5CCvjT8VAPeleq_n-o30J0Ws1uSLDVBqB3WtQFEO8kOnUGTMLtJAIMNgREvpVqXvXuNyMHYTgCimR2MtxCy9TprAUaQihq0zjee6k7C4lhaLiNLTn-8t0-udpu02xL/s1600/CapasECOCOIMBRA.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1132" data-original-width="1600" height="226" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMPifF2oGcpBy0Fr5CCvjT8VAPeleq_n-o30J0Ws1uSLDVBqB3WtQFEO8kOnUGTMLtJAIMNgREvpVqXvXuNyMHYTgCimR2MtxCy9TprAUaQihq0zjee6k7C4lhaLiNLTn-8t0-udpu02xL/s320/CapasECOCOIMBRA.jpg" width="320" /></a>Todos os sons executados neste ECOS excitam o espaço circundante. Este responde segundo os seus modos de vibração, segundo a sua assinatura acústica, reproduzindo as suas ressonâncias, colorindo os sons com a sua reverberação natural e multiplicando esses sons com os ecos que geram. O conjunto destes dois elementos sonoros — sons intrumentais e modos de vibração do espaço — formam um terceiro conjunto sonoro, fruto desta mistura e da combinação imprevisível das diferenças entre as distâncias dos instrumentistas e dos altifalantes, entre si e entre eles e as fachadas dos edifícios que os rodeiam, do momento exacto em que cada som é emitido e de todos os factores que intervêm na propagação do som. Nenhuma execução sucessiva da obra no mesmo local será igual e muito menos, naturalmente, se mudarmos de local. Até no mesmo local a percepção da obra é diferente para quem se situar em pontos diferentes da arena acústica ou circular por ela. Cada execução do ECOS é, de facto e como alguém escreveu, uma experiênciaa única e irrepetível.<br />
<br />
Uma experiência que se fica a dever a um conjunto de circunstâncias felizes que não queria deixar de assinalar. Começa na circunstância de o <b>JACC</b>, Jazz ao Centro Clube, através do seu Serviço Educativo, ter acolhido e produzido a ideia. Da sua concepção, um dia em conversa informal, até à sua estreia no passado dia 23, a concretização deste projecto foi o resultado do paciente, inesgotável, atento e multiforme acompanhamento de toda esta operação pela Catarina Pires, a responsável pelo Serviço Educativo do JACC, musa inspiradora desta obra. </div><div> </div><div>Houve outras circunstâncias felizes como o apoio do José Miguel e da sua esforçada equipa e a disponibilidade do Laboratório da Paisagem, de Guimarães, para ceder os sinos do <i>Dies Irea</i>. </div><div> </div><div>E houve um impulso decisivo, resultante de uma outra circunstância, particularmente feliz, que foi ter podido conhecer os músicos que executaram a obra, os obreiros deste êxito, cuja competência, empenho e dedicação não será jamais possível elogiar condignamente. Falo do <b>Simantra Grupo de Percussão</b>, constituído por Andrés Pérez, Carolina Saldanha, Leandro Teixeira, Luiz Ferreira, Sérgio Bernardo e Ricardo Monteiro. Para eles fica o meu agradecimento, especial e comovido.<br />
<br />
Uma palavra final para os amigos de Coimbra e de fora, que se deslocaram à cidade, especialmente para esta estreia.<br />
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<span style="font-size: x-small;">(as fotos de João Duarte, a quem também agradeço) </span><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiZK-trE5vcjeywIdhEkZpcY_Rd7X6I2H1rRxyV3Kkz5I5Qq3Uwu80QJoBKvrP7IVy3uLz31MI7VBBQ4TEueU0iNdkRL79THGgByE8YbPkv69wlwRVRLHIpYR5hmpn0fcN8XFcAyatmGWE/s1600/ECOS1.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjiZK-trE5vcjeywIdhEkZpcY_Rd7X6I2H1rRxyV3Kkz5I5Qq3Uwu80QJoBKvrP7IVy3uLz31MI7VBBQ4TEueU0iNdkRL79THGgByE8YbPkv69wlwRVRLHIpYR5hmpn0fcN8XFcAyatmGWE/s320/ECOS1.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEpdYnDDGGYrGijSQItk6erABM0MmSBhggspGxEI3sMIXZRUvCiX9YEhaKFQQCTQjWdNYSVKCev7xMwov_UFm-1-sYuW5tS3-oqVEO420cgMw-mg8JRH0B2tzRmMVQt3kiBwEPy98nAbM0/s1600/ECOS2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEpdYnDDGGYrGijSQItk6erABM0MmSBhggspGxEI3sMIXZRUvCiX9YEhaKFQQCTQjWdNYSVKCev7xMwov_UFm-1-sYuW5tS3-oqVEO420cgMw-mg8JRH0B2tzRmMVQt3kiBwEPy98nAbM0/s320/ECOS2.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP4zxvURH_WLEePwS3tx34O9_gjCnVPmaUnHHRJRo7XPTarwmA43c-4b3oHBIP3ouhtt_eQPdSmPxmzdriRfWTgWYXeni2wJ91Gn4Dqwz7SEG0R6VFCXrjLvN7jni6EOct2XY9ChoVrLpH/s1600/ECOS3.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP4zxvURH_WLEePwS3tx34O9_gjCnVPmaUnHHRJRo7XPTarwmA43c-4b3oHBIP3ouhtt_eQPdSmPxmzdriRfWTgWYXeni2wJ91Gn4Dqwz7SEG0R6VFCXrjLvN7jni6EOct2XY9ChoVrLpH/s320/ECOS3.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6kgAQXBE0C2SoOvkCKD9PQd5_sb-eEn2OgdwzXEFIj5XjuuZ7txtkOZ2IVtjbUnaE-_oFcKdkPZpS-tUbgzudbLuXXJCF9bXc0N8K6rDDFW_1sEEKknINlEjD1_5qLL1pyICFJ9QcHIez/s1600/ECOS4.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6kgAQXBE0C2SoOvkCKD9PQd5_sb-eEn2OgdwzXEFIj5XjuuZ7txtkOZ2IVtjbUnaE-_oFcKdkPZpS-tUbgzudbLuXXJCF9bXc0N8K6rDDFW_1sEEKknINlEjD1_5qLL1pyICFJ9QcHIez/s320/ECOS4.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAtJo3mmdpz55X5cy0uuDiJo29p6BfN4Xn20HYNNthWR0cpChaFglMCmdLGVGb2BrIk174ge3VfHnnbMbCkK-u9EUKOVVXDaQF3hgR6VfUhtsEN2QWERbaJKr39C6jZcJym8wRRkGqLe7Y/s1600/ECOS6.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAtJo3mmdpz55X5cy0uuDiJo29p6BfN4Xn20HYNNthWR0cpChaFglMCmdLGVGb2BrIk174ge3VfHnnbMbCkK-u9EUKOVVXDaQF3hgR6VfUhtsEN2QWERbaJKr39C6jZcJym8wRRkGqLe7Y/s320/ECOS6.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42G0IPOCZuaJK-ylhU0HKocs_5r_4ugOpSkebhqpdYQd1joDPyscLo3t1VS8hFDwqK2jbpdj8OUujNZkbmzPj0gGQ0fWzVUiocS8mT9hNlLoSlnlTY3DjvrVKOjCkM6O9w4iENo3Hgd18/s1600/ECOS7.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh42G0IPOCZuaJK-ylhU0HKocs_5r_4ugOpSkebhqpdYQd1joDPyscLo3t1VS8hFDwqK2jbpdj8OUujNZkbmzPj0gGQ0fWzVUiocS8mT9hNlLoSlnlTY3DjvrVKOjCkM6O9w4iENo3Hgd18/s320/ECOS7.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuUIgcv44xLGWGGwgx0pqWdEbN0SmP5WKzHn90ax3xpbPCRfU2yFJ11XHqw2hE546Ps-PZKYQXjR2RpqEI9FVYqTUqj8ZcBnnc35oBH42scuaBlWGbxbRTw7W7mB70N4llXifgzORivLHm/s1600/ECOS8.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuUIgcv44xLGWGGwgx0pqWdEbN0SmP5WKzHn90ax3xpbPCRfU2yFJ11XHqw2hE546Ps-PZKYQXjR2RpqEI9FVYqTUqj8ZcBnnc35oBH42scuaBlWGbxbRTw7W7mB70N4llXifgzORivLHm/s320/ECOS8.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxPQg9Ar60WXTGJHee06kcSf2dxjMru30crbiBZEU2wm5N2wnPXylcRw9WYrjT62k2OCgZyq7tk0UMskzYbtH-ejltTsemHbHLKyBH89uLCiyKJkCASEpohiKU-LWS3EeD3BluY514Ni36/s1600/ECOS9.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxPQg9Ar60WXTGJHee06kcSf2dxjMru30crbiBZEU2wm5N2wnPXylcRw9WYrjT62k2OCgZyq7tk0UMskzYbtH-ejltTsemHbHLKyBH89uLCiyKJkCASEpohiKU-LWS3EeD3BluY514Ni36/s320/ECOS9.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSdxj-d_Cd1Pyw8CO9Ut_Hw3H-_54JkLI7ojSFbwv-lYl2FNd81t2i4r50ThpMpXwpgWaAfm470qls7HYke1u5B4bCulAf5rj9prbOHKLrITrCVyJ8kwTxdCArFejVEu8QLd71wSWEc8s_/s1600/ECOS10.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="640" data-original-width="960" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSdxj-d_Cd1Pyw8CO9Ut_Hw3H-_54JkLI7ojSFbwv-lYl2FNd81t2i4r50ThpMpXwpgWaAfm470qls7HYke1u5B4bCulAf5rj9prbOHKLrITrCVyJ8kwTxdCArFejVEu8QLd71wSWEc8s_/s320/ECOS10.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRvDftn13Otr7tLLcGoU8GWu874CwGoPZfTq6IaQEm_fv8ZCIFdJfCSJf5GrkJN-j_vbL5Bqj1aZs63RkxEVS7KRwo4NUxcWj4pPmNe-T6fEh8e8KfgqLSKHgLCMbMojqf59z2ipYL2ktA/s1600/ECOS5.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgRvDftn13Otr7tLLcGoU8GWu874CwGoPZfTq6IaQEm_fv8ZCIFdJfCSJf5GrkJN-j_vbL5Bqj1aZs63RkxEVS7KRwo4NUxcWj4pPmNe-T6fEh8e8KfgqLSKHgLCMbMojqf59z2ipYL2ktA/s320/ECOS5.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHmTjTw8rx7aWo_EmY3zX0tbwSjYsjUPbG4tutn8agZTS_QEHD8VU-V_U46PttY0h0E4Goqifnj5IoZrXEFzivLowLOi_2hUtRcxMqUZ7dPxidxomq7y9UxqkX9KcYeBthrDQ1ucEAHcIL/s1600/ECOS12.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHmTjTw8rx7aWo_EmY3zX0tbwSjYsjUPbG4tutn8agZTS_QEHD8VU-V_U46PttY0h0E4Goqifnj5IoZrXEFzivLowLOi_2hUtRcxMqUZ7dPxidxomq7y9UxqkX9KcYeBthrDQ1ucEAHcIL/s320/ECOS12.jpg" width="320" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsmyXlyl1sr9vtpVmtzCK2PDuEjvNeVpmiSmCznq-ma4HNoP3nNUihba44s173Jo-A9VhyphenhyphenztH8sA4VP61JqVy0qGyJDUFWr5cD80BzgoN87XXUBJTjmsqgpBRhmPI7pr7CNoXnCncj19lm/s1600/ECOS13.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1001" data-original-width="1500" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsmyXlyl1sr9vtpVmtzCK2PDuEjvNeVpmiSmCznq-ma4HNoP3nNUihba44s173Jo-A9VhyphenhyphenztH8sA4VP61JqVy0qGyJDUFWr5cD80BzgoN87XXUBJTjmsqgpBRhmPI7pr7CNoXnCncj19lm/s320/ECOS13.jpg" width="320" /></a></div>
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<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-39315623564613395602017-06-06T01:26:00.036+01:002022-06-07T00:46:17.226+01:00Tocar<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgch6qLdqw8zBJNItI_sr6Ilbog-kaLaob1X0CnSmu5VqlCMx-nhcxjZUqxuVucQLLBy7M6y7mA2pXpe72jnqZ9ZZ4wHhJ9Z_2SYQ0E-NzdjfwmogYNGUQdEG7e4rZNq7rayikyI89t-zXn/s1600/Ritual2_2.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOXxRskfCNBhGTO75ol5X6e1NX4WEjK4mhHe9w68Gt-1rbno5-oS_daytNhWtCBaAlui5q2FAvy1rGZoxciVXgxLb-mKjMaHqQPvSQZWpZcoeKU1MTMvliFmSy4w5ARS3JjXbmSkGvGscY/s320/Ritual2_1.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: large;">E</span>m música, usamos a palavra <i>tocar</i> com significados diversos. Dizemos que <i>tocamos</i> um instrumento ou que <i>tocamos</i> numa orquestra, por exemplo.<br />
Mas tocar, em música, é sobretudo atingir alguém com ela, penetrar com os sons no mais profundo, no mais íntimo da sua alma. Na verdade, nem sabemos muito bem que parte do eu estamos a atingir, quando tocamos alguém com a nossa música. Mas sabemos que estamos a atingir um centro qualquer, vital. Verdade seja dita que, no dia que souber como tudo isso acontece, deixo de fazer música...<br />
Tocar em alguém com música não tem figurino, modelo ou horário. Pode acontecer da forma mais inesperada, com os meios mais sofisticados ou da forma mais singela. Acontece a este e a oeste. De dia ou de noite. Podemos estar sozinhos, em frente da fonte da música, a ouvir solitariamente um disco, Podemos estar acompanhados por milhares, integrados num qualquer ritual colectivo. Tocar por música não envolve contacto entre as dermes. É uma espécie de sintonia entre uns “chips” invisíveis, que a espécie parece possuir. <br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOoS6H68GCYU6TpQvl3-1zWHnmApZBVoz-cfSCIlZChtdXbVYamJe5apoqGswobMIxjoMtbE_ICkjdmJN3hAJF3Ea_9qnfvGACH-iV00WDdsaHVAGsBse5GEyMQhhtJ0CoXjurkh7c3LUy/s1600/Ritual2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOoS6H68GCYU6TpQvl3-1zWHnmApZBVoz-cfSCIlZChtdXbVYamJe5apoqGswobMIxjoMtbE_ICkjdmJN3hAJF3Ea_9qnfvGACH-iV00WDdsaHVAGsBse5GEyMQhhtJ0CoXjurkh7c3LUy/s320/Ritual2.jpg" width="320" /></a>Eu já fui tocado pela música de outros e já toquei outros com a minha música.<br />
Sabemos quando tocamos alguém com os nossos sons. É este o sortilégio, perfeitamente inexplicável, da música. É este o poder dos sons. Pode ser a Missa em Si menor de Bach ou o Requiem de Mozart, que nos deixa em lágrimas. Mas pode também ser um jovem aluno, de uns meros 10 anitos, numa aula de Educação Musical, ainda faltavam uns meses para Abril de 74, a improvisar, numa pequeníssima e rudimentar flauta de bambu, com três notas, uma melodia singela que nos entrou, violenta, pelo coração dentro. Que teve também o condão de deixar uma turma, habitualmente inquieta, totalmente presa, em inusitado silêncio. <br />
Também sabemos quando esse fenómeno não ocorre. Quando há resistência, quando do outro lado ninguém se deixa tocar.<br />
Ontem, quando terminou o Ritual Sonoro (cf. mais informação <a href="https://fragmentos-caa.blogspot.pt/2017/06/ritual-sonoro-guimaraes-cidade-verde.html" target="_blank">aqui</a>), um dos acontecimentos que assinalou o lançamento da Bienal da Arte da Terra, ela própria uma emanação da candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia e vimos o sorriso e a expressão de felicidade dos diferentes participantes, músicos e ouvintes, neste Ritual, sabíamos que todos foram, todos fomos, profundamente tocados por aquilo que ouvimos. É um daqueles momentos em que sabemos que tocámos em algo que nos transcende, como simples mortais.<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgch6qLdqw8zBJNItI_sr6Ilbog-kaLaob1X0CnSmu5VqlCMx-nhcxjZUqxuVucQLLBy7M6y7mA2pXpe72jnqZ9ZZ4wHhJ9Z_2SYQ0E-NzdjfwmogYNGUQdEG7e4rZNq7rayikyI89t-zXn/s1600/Ritual2_2.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgch6qLdqw8zBJNItI_sr6Ilbog-kaLaob1X0CnSmu5VqlCMx-nhcxjZUqxuVucQLLBy7M6y7mA2pXpe72jnqZ9ZZ4wHhJ9Z_2SYQ0E-NzdjfwmogYNGUQdEG7e4rZNq7rayikyI89t-zXn/s320/Ritual2_2.jpg" width="320" /></a>Estarão profundamente equivocados aqueles que não se apercebem deste poder e cometerão um erro brutal aqueles que, apercebendo-se, escolhem não atribuir o devido valor e extrair as conclusões correctas do sentimento que experimentaram.<br />
Ontem, em Guimarães, mais uma vez, a música provou que constitui o meio mais poderoso para construir elos entre as pessoas. Não há outro.<br />
Cada vez me convenço mais, aliás, que a Música foi desenvolvida pela espécie humana como forma de a preservar e salvá-la do perigo de extinção...<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-75542863735183219172017-06-05T23:48:00.005+01:002022-06-07T00:46:30.174+01:00Os auxiliares<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR_Mi6LlMGZr9t1y3tabIpUC8cLvbebFpfQ47i91Nqt29aDTZZGNoy0Jh3EFLuO7oeXrw2QeEp_jm-GWAR_VYBI4EqrSTExgkmA3dj10wto0py95FbA7XiLPVn6RxKrL85ZqdssSYtMydE/s1600/ladybug.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="397" data-original-width="529" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR_Mi6LlMGZr9t1y3tabIpUC8cLvbebFpfQ47i91Nqt29aDTZZGNoy0Jh3EFLuO7oeXrw2QeEp_jm-GWAR_VYBI4EqrSTExgkmA3dj10wto0py95FbA7XiLPVn6RxKrL85ZqdssSYtMydE/s320/ladybug.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-size: large;">S</span>e dúvidas houvesse sobre o que se está a passar na Terra hoje, elas ficariam dissipadas com esta historieta que vos vou contar. Foi-me transmitida por uma amiga que fez uma alteração no seu percurso de vida e se dedica agora à agricultura biológica.<br />
A nova via resultou da decisão de recuperar uma quinta de família, há muito utilizada apenas como local de recreio.<br />
Durante o tempo em que esteve inactivo, o solo da quinta secou e a fauna tradicional abandonou o local. Algum tempo depois de reiniciada a actividade agrícola, dos solos voltarem a estar ocupados, da flora tradicional e das novas espécies cultivadas os terem repovoado e da fauna (sobretudo os "auxiliares", as espécies que ajudam a fazer a "manutenção", cujos micro sistemas ecológicos voltaram a estar activos) ter regressado, os fins de tarde, outrora silenciosos em resultado da inactividade agrícola e da aridez assim gerada, passaram a ser verdadeiras sinfonias de sinais sonoros da multidão de espécies que voltou, insectos, aves e outros.<br />
A transição do silêncio para a nova paisagem sonora deu-se sem que os proprietários se tivessem dado conta da lenta instalação desse silêncio e da aridez que ele representava. Mas a vida regressada foi logo ouvida.<br />
Notável é a sensiblidade aqui revelada pelo reconhecimento da nova paisagem sonora e das mensagens que ela revela.<br />
Por tudo isto, ajudar a ganhar ou a recuperar esta sensibilidade é uma missão que me continua a parecer vital. Por outro lado, prestar atenção aos sons e aos silêncios da paisagem sonora é hoje mais urgente que nunca. Saber interpretar o que eles querem revelar pode significar a diferença entre a continuação ou o fim da espécie.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-41941846308536244342017-06-01T20:07:00.058+01:002022-09-19T00:33:38.861+01:00Ritual Sonoro - Guimarães, Cidade Verde Europeia<div class="separator" style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRIiw6BRkUYqKJkTDkjUit2MucuYK-B6t_AJMZQraijU9RAiUyLAqze6sYj6FMx6NWCFFRX38Nzq9MmEeUhEadMT9W0MSezfZExN5ctTYr8GFsg9r2zSoVh-ADX6MAGDyaLVRde4b3A3_I/s1600/Percursos+Guimara%25CC%2583es+Oliveira+Geral.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1159" height="465" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRIiw6BRkUYqKJkTDkjUit2MucuYK-B6t_AJMZQraijU9RAiUyLAqze6sYj6FMx6NWCFFRX38Nzq9MmEeUhEadMT9W0MSezfZExN5ctTYr8GFsg9r2zSoVh-ADX6MAGDyaLVRde4b3A3_I/w335-h465/Percursos+Guimara%25CC%2583es+Oliveira+Geral.jpg" width="335" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div><p>
<span style="font-size: large;">Q</span>uando falamos de território, estamos, sobretudo, a pensar num conjunto de pistas de natureza visual que contribuem para dar substância ao conceito. São elementos que mapeiam a realidade física e nos ajudam a lidar com toda essa complexidade. Pode ser um elemento natural ou um feito pelo homem. Uma grande montanha, por exemplo ou um objecto, um marco, um edifício, uma ponte, que une as duas margens de um rio. Linhas, figuras geométricas, gradações de luz. Um rio, pode ser, ele próprio, definido como uma linha sinuosa que cava uma garganta profunda no volume de um acidente orológico. Pode ser o perfil linear de uma árvore, os polígonos coloridos dos campos lavrados ou em flor, ou ainda a mancha abstracta e cromaticamente dinâmica de uma floresta. Pode ser a linha recta do horizonte distante que separa os azuis do céu e do mar ou a linha quebrada dos edifícios de uma cidade, interrompida pela curva parabólica de uma ponte. </p><p></p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgra1SSB8cuRWWveJwR64EyA6dBWQ6oLS4YkjABbMKYm_BKrppvZTc0d2yJVgElkIe9JIqWpAYBUrv3rzj_fhjGKb5Bt0XWIrepPHPRiXO9_GG71_JwAH9z8EXBxq46z1WvPUkKBS_YTJ7L/s1600/Ritual1.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgra1SSB8cuRWWveJwR64EyA6dBWQ6oLS4YkjABbMKYm_BKrppvZTc0d2yJVgElkIe9JIqWpAYBUrv3rzj_fhjGKb5Bt0XWIrepPHPRiXO9_GG71_JwAH9z8EXBxq46z1WvPUkKBS_YTJ7L/w320-h240/Ritual1.jpg" title="Fotos de ensaio" width="320" /></a><p>Outras culturas usam outros elementos, para esse efeito. Cheiros ou sons, por exemplo. O efeito subliminar dos cheiros pode ajudar, em certas culturas, o viajante a orientar-se em território desconhecido. O antropólogo Edmund Carpenter descreve como os Inuit desenham, em peles, mapas baseados na escuta do mar que atinge as rochas da costa. A partir desses sons surge o mapa com surpreendente e preciso detalhe do território escutado. Na prática, nenhum dos sentidos tem total primazia, embora haja diferenças culturais profundas e constragimentos naturais no peso relativo que eles têm na percepção do ambiente envolvente, na criação da noção de território e na construção daquilo que se designa por paisagem.<br />
<br />
Passará muitas vezes despercebido o peso da escuta na percepção que temos, aqui no Ocidente, desse ambiente envolvente e do seu efeito no mapeamento do território. Estamos de tal maneira habituados a <i>olhar</i> o território e de tal forma condicionados pela realidade de mapas, textos, ecrãs, desenhos, fotografias e tantos outros elementos de natureza visual para representar, esse território, que poderemos não nos dar conta da importância que o som tem na construção deste conceito. Mas ela é inequívoca. </p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ7Z4ypzl4KZZM2la7NJNA6gfJme1K4sto5-MprdCsKaPbuLRinK17fjmcdbNDVLOz1ekzChQRHBVcKENFNKa0GcSw7UZW9Gw_oNJSoAjMtbDlnpkrVSOwJ2A1XokN_cpXFaSe9wOBErb/s1600/Ritual2.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibQ7Z4ypzl4KZZM2la7NJNA6gfJme1K4sto5-MprdCsKaPbuLRinK17fjmcdbNDVLOz1ekzChQRHBVcKENFNKa0GcSw7UZW9Gw_oNJSoAjMtbDlnpkrVSOwJ2A1XokN_cpXFaSe9wOBErb/w298-h223/Ritual2.jpg" width="298" /></a><p>O som fornece-nos pistas fulcrais sobre o ambiente circundante. Funciona na ausência da visão e de forma ininterrupta. Os sons podem constituir marcos e podem-nos dar indicações sobre distâncias, sobre a natureza dos materiais, as deslocações e o estado dos elementos móveis da paisagem. O que nos permite, por seu turno, juntar outros factores, não tangíveis, a essa noção de território. O vento, por exemplo, não se vê. Mas é possível definir um território a partir do efeito sonoro de um regime de ventos. Um ouvido treinado consegue distinguir espécies vegetais apenas pelo som que o vento provoca nas suas folhas. Diferentes tipos de folhas produzem sons diferentes. O vento e os sons que transporta é também um excelente indicador metereológico. Se ainda encontrarem algum, perguntem ao moleiro. O som pode ser um utensílio precioso para lidar com elementos intangíveis ou efémeros dessa paisagem.<br />
<br />
O sino é, simultaneamente, um marco, um símbolo e uma ferramenta fulcral desse processo. O sino marca um território. O seu perfil sonoro foi outrora o elemento que delimitava a fronteira da paróquia, como lembrava Schafer. O seu tamanho e a sua potência sonora ajustavam-se a essa função. Simultaneamente, o sino leva consigo, através do território que o seu perfil sonoro cobre, a sua mensagem e constitui a presença simbólica de quem a determina. É um hino, uma espécie de tele-bandeira.</p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-ENydWCQnf7hCgQ1GNtHeJjaw4gdVklIHaqfBqqiJUngXrToT5hWQq1tVmcIH_y5PIERYkc7usdvNUrypZ_9yIShrYBTHZxQxsuF3FHaNRYR_5qGeVpdEzmQglbzxF44VEZgC-UTMLGr/s1600/Ritual_5.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="247" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9-ENydWCQnf7hCgQ1GNtHeJjaw4gdVklIHaqfBqqiJUngXrToT5hWQq1tVmcIH_y5PIERYkc7usdvNUrypZ_9yIShrYBTHZxQxsuF3FHaNRYR_5qGeVpdEzmQglbzxF44VEZgC-UTMLGr/w329-h247/Ritual_5.jpg" width="329" /></a><p>
Linhas, manchas cromáticas, formas geométricas, mapas, fotografias, itinerários e relatos de viagem, são representações visuais de realidades físicas que nos ajudam a construir mentalmente e a orientarmo-nos num território. Também o som, os sons, nele produzidos entram nesse processo.<br />
<br />
Não é, pois, por acaso que o território e o sino se fundem neste <b>Ritual Sonoro</b>. O centro do território deste ritual será o Largo da Oliveira, em Guimarães. Os sinos da sua igreja serão o fulcro sonoro desta intervenção. A par dos sinos da Oliveira outros sinos, de vários tamanhos e qualidades, das igrejas do centro da cidade e das suas zonas circundantes, teremos sinos de mão e pequenos sinos individuais, fixos e móveis, dos grupos participantes neste ritual, que soarão no espaço deste ritual. E enquanto se propaga esse som simbólico e sagrado, proveniente de vários pontos do território concelhio, no Largo, um coro fará ouvir um canto: uma oração Navajo, que nos fala justamente de território, das direcções e das extensões que esse território contém. </p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmUpPxH3tRmGAy8zyDUcKaRK17isU9dAHvC9bv7nDSsWQyqdlXvLgtvdfl5YU2JP1DPWI-FacgOXBhkr-rJdAEjlzu7cnXfcH2cHixT1RiHFse2cTk78m_t7DakBaU5h8RsHhzkbfBq16n/s1600/Ritual_4.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmUpPxH3tRmGAy8zyDUcKaRK17isU9dAHvC9bv7nDSsWQyqdlXvLgtvdfl5YU2JP1DPWI-FacgOXBhkr-rJdAEjlzu7cnXfcH2cHixT1RiHFse2cTk78m_t7DakBaU5h8RsHhzkbfBq16n/w352-h266/Ritual_4.jpg" width="352" /></a>Um <b>Ritual Sonoro</b> inserido num conjunto de actividades denominado <i>Greenweek</i>, inciativa que faz parte da candidatura de Guimarães a Capital Verde Europeia, de onde emana a Bienal da Arte da Terra que este Ritual, celebração do Território e do Sino, pretende simbolizar.<p>
O <b>Ritual Sonoro</b> vai ter lugar no dia 4 de junho de 2017, pelas 12:45h. Fotos de ensaio de CAA.<br /></p><p> (NB- sobre o acontecimento ver <a href="https://fragmentos-caa.blogspot.com/2017/06/tocar.html">aqui</a>.) <br /></p><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-20548303585428438522016-09-27T09:32:00.010+01:002022-06-07T00:52:23.054+01:00Os dois relojoeiros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlIPGeftVJtk83UTKm7pU0HD_7qnIzhJliUYoQD2U0LLP-ZYl-tsSLNRv4eFan7JCddPGNRrCinaMVq79wlI8i4ktjuZrAGSAOkM8IHDA6IIiaKHBp_Lai7hTMH2J9VCCAbqtqJpS_4PNL/s1600/Chaika46.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="408" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjlIPGeftVJtk83UTKm7pU0HD_7qnIzhJliUYoQD2U0LLP-ZYl-tsSLNRv4eFan7JCddPGNRrCinaMVq79wlI8i4ktjuZrAGSAOkM8IHDA6IIiaKHBp_Lai7hTMH2J9VCCAbqtqJpS_4PNL/s400/Chaika46.png" width="500" /></a></div>
<div class="p1" style="text-align: center;">
<span class="s1"><br /></span></div>
<div class="p1">
<span class="s1"><span style="font-size: large;">H</span>avia em tempos longínquos, na cidade de La Chaux-de-Fonds, dois relojoeiros muito apreciados pela especial qualidade dos relógios que produziam. Havia uma certa disputa até entre eles. </span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Não faltavam artífices distintos nesta cidade, que a pouco e pouco começou a tornar-se muito conhecida por isso. Aqui se fabricavam os melhores e mais precisos movimentos, as mais robustas e mais sólidas caixas, os mais belamente decorados mostradores. Os relojoeiros de La Chaux-de-Fonds orgulhavam-se da excelência dos seus conceitos, da quase inacreditável exactidão dos seus métodos de trabalho, do requinte extremo dos seus preciosos acabamentos, mas era no rigor das medições que os seus relógios proporcionavam que colhiam um sentimento especial. Um ano era um ano, um mês era um mês, um dia tinha vinte e quatro rigorosas horas, cada hora tinha sessenta precisos minutos, cada minuto era medido em sessenta completos segundos e cada segundo era um instante exacto, cuja absoluta duração era, não só, certa como mais nenhuma outra, mas, sobretudo, imutável. Um segundo era um segundo num relógio saído das mãos de um destes relojoeiros, e continuaria a sê-lo muitos anos depois, apesar do incessante movimento de todo aquele mecanismo. Um segundo era uma categoria imutável, preciosa, fiável, segura. O Tempo parecia, graças a estes mecanismos invulgares, uma categoria absoluta, inalterável, implacável no seu inexorável progresso, mas dócil e estranhamente confortável na precisão com que os seus instantes fundadores poderiam ser assim medidos.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Entre os muitos relojoeiros capazes de fabricar tão magníficas máquinas, estes dois eram reconhecidamente os melhores e especialmente apreciados porque a precisão dos seus mecanismos e a extrema beleza dos seus produtos excediam as de todos os outros. </span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Um dia um estranho fenómeno atingiu estas duas manufacturas. Subitamente os relógios que estavam prontos a serem expedidos para os clientes, descontrolaram-se. Uma hora podia durar um segundo, um segundo prolongava-se por dias. Mais estranho, a hora recuava, acelerava, oscilava, por vezes parava, estranhamente. Um instante parecia suspender-se, por vezes, não se conseguindo adivinhar qualquer movimento. O Tempo tinha passado a controlar os relógios.</span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Os relojoeiros observavam, inspecionavam, testavam. Não havia dúvida: o Tempo controlava os instrumentos que o tentavam medir. Os instrumentos já não conttrolavam o Tempo. Nunca foi possível perceber por que razão esse Tempo decidiu tomar conta dos mecanismos dos relógios e, sobretudo dos que tinham sido fabricados por este dois relojoeiros, em particular. Porquê estes dois? Sabe-se que na ânsia de salvar as suas manufacturas eles procuraram afanosamente explicações, elaboraram teorias, procuraram retomar o controlo. Sabe-se que acabaram por desistir. Sabe-se também que decidiram, no final, abraçar as possibilidades que o Tempo lhes estava assim a proporcionar. </span></div>
<div class="p1">
<span class="s1">Sabendo que eram os melhores relojoeiros de La Chaux-de-Fonds, tendo ficado a conhecer, como mais ninguém, o poder que o Tempo tem, decidiram render-se-lhe. Esse Tempo, que eles teimosamente procuraram medir com a maior precisão possível, era afinal uma entidade com poder próprio, que não se deixava subjugar nem conter num simples mecanismo, por mais preciso e belo que pudesse ser, que ditava, ele sim, as suas próprias leis. O Tempo não se deixa controlar. </span></div>
Os dois relojoeiros decidiram então fechar as suas manufacturas, mas antes fabricaram um exemplar único deste relógio que mostrava o tempo que o Tempo dava e oferecê-lo ao outro. Cada um traz agora no pulso o relógio que o outro lhe ofereceu e vive a vida ao ritmo que o Tempo dita. Um tempo sem a falsa e impraticável precisão que os relógios que fabricaram toda a vida lhes proporcionava.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-1400161315459878312016-09-09T12:00:00.000+01:002016-09-12T15:59:29.621+01:00A Marina<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFanTIVslNO9MdTBShAu8inagAf_KLrwi3tHYCg3G_hVVG4RZ5Ys5sVjBGWSwiGMvs5wTB9pTSomEINA9HNSFDnqTGo07DJ2ZDG3dOOOiIz6Wzq_fNS2mjS21H1gLCopkKgfwMREnZ1b8E/s1600/IMG_0302.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFanTIVslNO9MdTBShAu8inagAf_KLrwi3tHYCg3G_hVVG4RZ5Ys5sVjBGWSwiGMvs5wTB9pTSomEINA9HNSFDnqTGo07DJ2ZDG3dOOOiIz6Wzq_fNS2mjS21H1gLCopkKgfwMREnZ1b8E/s400/IMG_0302.JPG" width="520" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
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As manifestações de apreço que me têm sido transmitidas a propósito desta ópera <b>TMIE, standing on the threshold of the outside world</b> são invariavelmente do tipo "parabéns, muito bom [pausa dramática] e a cantora! Que fantástica, como é que ela conseguiu meter aquela música toda na cabeça, e que força é preciso ter para estar uma hora, assim, sozinha em palco..."<br />
Pois bem, estas apreciações sobre a Marina pecam por um motivo: ficam muito aquém dos elogios que ela merece.<br />
Eu sei porque acompanhei e orientei, no contexto do papel que me cabia, o trabalho dela e, digo-vos, não consigo encontrar palavras que traduzam exactamente o elogio que gostava de lhe fazer e que ela merece.<br />
Eu sei porque passei com ela horas e horas de ensaio, partilhei pausas, fui verificando momento a momento a evolução e os resultados do nosso processo de trabalho. A obra foi nascendo, foi ganhando vida, porque a Marina lhe deu vida!<br />
Sei-o, digo-o categoricamente, como mais ninguém.<br />
Claro que se poderia falar do inexcedível talento, da imensa frescura e luminosidade que irradia a sua presença, da incrível capacidade vocal, da surpreendente versatilidade, da exigência e meticulosidade com que encarou este trabalho, do imenso "profissionalismo", da inteligência, da vivacidade, enfim. Tudo isso seria e é verdade. Mas citar apenas estes factores peca por defeito e levar-me-ia a cometer uma tremenda injustiça. A Marina é muito mais do que isto que referi. É tudo isto, sim, e mais tudo aquilo que faz com que tudo isto, quando comparado com tudo aquilo, não passe de coisa simplesmente normal.<br />
Acreditem, eu sei. E repito-o categoricamente.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-4035674488165336022016-09-09T11:58:00.000+01:002020-03-20T17:47:13.296+00:00TMIE, standing on the threshold of the outside world (Texto da folha de sala)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdsaRA6LWiL99QiVjXzrenl63n9FzRkIZd2LkuqwouX4vNxv4I75feEYodhdC_KP9qLcry0UDe8kmDkHBYoC4wGN0cVLKigOICrL7j-3hcKw0aqqYJVQ7K9xpZC4ywLzxljCuTWJR58jUD/s1600/IMG_0304.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdsaRA6LWiL99QiVjXzrenl63n9FzRkIZd2LkuqwouX4vNxv4I75feEYodhdC_KP9qLcry0UDe8kmDkHBYoC4wGN0cVLKigOICrL7j-3hcKw0aqqYJVQ7K9xpZC4ywLzxljCuTWJR58jUD/s400/IMG_0304.JPG" width="520" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
No limiar do mundo exterior<br />
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Não, não se trata de uma gralha. TMIE é o acrónimo de Transmembrane Inner Ear (transporte trans-membranário do ouvido interno). É um gene, um dos elementos inicialmente activos na formação do ouvido interno, que está presente na cóclea e faz parte do complexo processo de transdução electromecânica do som para o nervo auditivo.<br />
O mau funcionamento deste gene é causa de surdez. O seu funcionamento, em condições normais, medeia a passagem entre o mundo sonoro exterior — o das variações da pressão sonora do ar que nos chega ao ouvido interno e o nervo auditivo — até a informação, finalmente, chegar ao cérebro e ser por ele processada.<br />
TMIE é título escolhido para esta obra como um símbolo da ligação do nosso mundo exterior ao mundo interior.<br />
Em TMIE duas deusas, de mitologias diferentes, têm uma conversa improvável sobre os seus universos pessoais. Meretseger, aquela que ama o silêncio, desvenda-nos o que ouve por detrás desse silêncio. Selene, aquela que percorre os céus no seu carro de prata puxado por cavalos, adivinha os ritmos dos astros que vai descobrindo nestas suas deambulações. Um Corifeu ouve o que as duas deusas dizem, procura interpretar a essência das suas palavras e faz-nos a sua síntese.<br />
Os três representam personagens reais.<br />
Meretseger é Beverly Biderman, a canadiana que aos 46 anos, depois de uma surdez profunda desde os 12, decidiu submeter-se a uma operação de colocação de implantes cocleares. Recuperou a audição e teve de reaprender a ouvir. Selene é Henrietta Leavitt, a astrónoma americana. Descobriu a forma de fazer esta coisa quase inimaginável: medir o universo. Henrietta era surda, mas, através da fotometria, parecia ouvir o que os astros lhe diziam. Os seus ritmos, as suas palavras. O Corifeu é Empédocles, o filósofo pré-socrático que procurava as categorias essenciais do Universo e que foi o autor da primeira teoria sobre a natureza do ouvido e da audição. O ouvido: um sino, um ramo carnudo.<br />
Relacionamo-nos com o ambiente que nos rodeia. Perante os sinais e efeitos que dele emanam e a nossa capacidade de os interpretar, o que resta? Consciência? Livre arbítrio? Alma?<br />
Francis Crick sugere que uma parte do cérebro se ocupa a planear acções futuras. Temos consciência das decisões que tomamos em resultado desse planeamento, não do planeamento em si.<br />
Henrietta Leavitt ouvia ou não realmente as estrelas? "Ouvimos com o cérebro" diz Biderman. O implante coclear produziu um "truque da mente" que lhe permitiu voltar a ouvir. "Não ouço como vós" acrescenta Biderman. Quem sabe o que ouve, de facto, Beverly Biderman? Como poderá saber ela o que cada um de nós ouve?<br />
(O libreto desta opera está disponível <a href="http://carlosalbertoaugusto.org/Artigos/libretto.html" target="_blank">aqui</a>.)<br />
<br />
Agradecimentos:<br />
Um agradecimento, em primeiro lugar, a Beverly Biderman e a George Johnson pela forma generosa como acolheram este projecto. O libreto de TMIE baseou-se sobretudo em dois livros destes dois autores. De Biderman, <i>Wired for Sound: a journey into hearing</i> (1998), recentemente revisto e disponível em formato ebook. De Johnson, <i>Miss Leavitt's Stars: the untold story of the woman that discovered how to measure the Universe</i> (2005). As fontes utilizadas para o libreto completam-se com versões dos <i>Fragmentos</i> de Empédocles, coligidos a partir de traduções diversas, e num fragmento do soneto <i>Evolução</i> de Antero de Quental.<br />
A música de TMIE foi desenvolvida e produzida a partir da ideia da sonificação de curvas de roleta e espirais. Este trabalho foi totalmente realizado com o Kyma, o gerador e processador digital da Symbolic Sound, a quem também ficam aqui expressos os meus agradecimentos.<br />
Ficam também agradecimentos institucionais. À Miso Music Portugal e à Widex em primeiro lugar, por terem contribuído de forma definitiva para tornar TMIE uma realidade. Agradecimentos especiais também à Avantools e ao Teatro da Rainha, pelo apoio imprescindível que deram a este projecto.<br />
Por detrás das instituições estão os indivíduos. Agradecimentos sentidos a Miguel Azguime, Tiago Nunes, Paulo Jorge Ferreira, Fernando Mora Ramos, Ana Pereira, Filipe Gill Pedro, João Pedro Leão, Jorge Simões da Hora, Miguel Lourtie, Maria do Céu Brito e Margarida Vargas.<br />
E como os últimos são os primeiros, fica por fim um destaque especial e um agradecimento infinito a Marina Pacheco. O entusiasmo e o superior talento que colocou ao serviço deste desafio e a energia que lhe dedicou seriam suficientes para me deixar em eterno défice de gratidão. Acresce que, como se tudo isto fosse pouco, é ela que dá a vida que faltava a esta obra. É o seu rosto, mas também a sua alma.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-37025074583198743662016-08-31T20:46:00.001+01:002016-09-01T00:18:52.892+01:00Uma ópera sobre a espiral<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC7Rw6fe0ouroeGwyEHJvrVq1_NLHH4jOQ6czyqOdEOnJhj7PPb21c3VGzrQw_k9ajhrQhff9Xjd9lBrVvn-k4kEXZOoAvXyJehTZlCNqUgf90sK6T4kgYkqpyloCMjRVij7zv8bZDDbA/s1600/Cartaz+proviso%25CC%2581rio+TMIE.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="260" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgC7Rw6fe0ouroeGwyEHJvrVq1_NLHH4jOQ6czyqOdEOnJhj7PPb21c3VGzrQw_k9ajhrQhff9Xjd9lBrVvn-k4kEXZOoAvXyJehTZlCNqUgf90sK6T4kgYkqpyloCMjRVij7zv8bZDDbA/s640/Cartaz+proviso%25CC%2581rio+TMIE.jpg" width="500" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">"TMIE, on the threshold of the outside world" é uma nova ópera de Carlos Alberto Augusto. Marina Pacheco, admirável soprano, vai estrear a obra no próximo dia 8 de setembro no O'culto da Ajuda.</span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;">TMIE tem um libreto baseado no livro de </span><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;">Beverly Biderman </span><a href="https://www.amazon.com/Wired-Sound-Journey-Into-Hearing/dp/1895579325/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1472670060&sr=1-2&keywords=wired+for+sound" style="background-color: white; color: #114f51; line-height: 18.48px; text-decoration: none;" target="_blank">"Wired fro Sound: a journey into hearing"</a><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;"> e no livro de George Johnson </span><a href="https://www.amazon.com/Miss-Leavitts-Stars-Discovered-Discoveries/dp/0393328562?ref_=nav_ya_signin&" style="background-color: white; color: #114f51; line-height: 18.48px; text-decoration: none;" target="_blank">"Miss Leavitt's Stars: The Untold Story of the Woman Who Discovered How to Measure the Universe"</a><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;">, assim como excertos do filósofo Empédocles e do poeta Antero de Quental.</span></span><br />
<span style="background-color: white; line-height: 18.48px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Biderman é a canadiana, surda profunda desde os 12 anos, que aos 46 se submeteu a uma operação de colocação de implantes cocleares e nos descreveu o processo complexo de reaprendizagem da audição. Nessa descrição da reaprendizagem adivinhamos o que é a aprendizagem . Leavitt é a astrónoma, também surda, que criou as bases de trabalho que permitiram esta coisa espantosa que é conseguir medir o universo. Fê-lo enquanto ouvia o "ritmo das estrelas". Empédocles é o filósofo grego que criou a primeira teoria sobre o ouvido e a audição. </span></span><br />
<span style="background-color: white; line-height: 18.48px;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A surdez é de facto um tema central desta ópera, mas o trabalho aponta também noutras direcções, designadamente a nossa relação com a realidade que nos rodeia (exterior e a nossa própria realidade física interna), mas sobretudo o mundo dos nosso pensamentos e da nossa consciência, atrever-me-ia a dizer, da nossa alma. Das espirais da cóclea às espirais das galáxias.</span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;">O soprano Marina Pacheco interpreta três papéis diferentes nesta obra, cuja música, totalmente electrónica, foi concebida com a ajuda do sistema </span><a href="http://kyma.symbolicsound.com/" style="background-color: white; color: #114f51; line-height: 18.48px; text-decoration: none;" target="_blank">Kyma</a> e se baseia na sonificação de curvas de roleta. Um sistema de<span style="background-color: white; line-height: 18.48px;"> 10 altifalantes cria o espaço acústico deste TMIE. Um video, especialmentee produzido para este trabalho serve simultaneamente de cenário e de iluminação. </span></span><br />
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><a href="http://www.misomusic.com/index.php?option=com_content&view=article&id=496:estreia-da-opera-tmie-standing-on-the-threshold-of-the-outside-world&catid=69&Itemid=664&lang=pt" style="background-color: white; color: #114f51; line-height: 18.48px; text-decoration: none;" target="_blank">Aqui</a><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;"> encontrará mais informação sobre esta obra..</span><br style="background-color: white; line-height: 18.48px;" /><span style="background-color: white; line-height: 18.48px;">Depois da estreia em Lisboa "TMIE" entrará em digressão.</span></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: "arial" , "tahoma" , "helvetica" , "freesans" , sans-serif; font-size: 13.2px; line-height: 18.48px;"><br /></span><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-43911419588955886082016-05-26T19:57:00.004+01:002022-06-07T00:55:05.994+01:00O Manel"<span style="font-size: large;">A</span>credito firmemente que sem especulação não existe observação de qualidade e original", terá dito Darwin.<br />
As expressões faciais de bebés e crianças têm sido objecto de análise por numerosos cientistas. Darwin é, ele próprio, uma figura de referência no domínio da análise das expressões faciais em geral, e este tema, em particular, o da expressão facial das crianças, não lhe escapou à atenção.<br />
Tudo isto vem isto a propósito de uma situação que aconteceu ontem comigo.<br />
Eu conto.<br />
Estava numa esplanada com uma amiga. Na mesa ao lado sentava-se uma jovem mãe com um bebé e um casal que imaginei que fossem os avós do bebé.<br />
O bebé estava virado para mim, mas entretido na brincadeira com a mãe e só a ela parecia prestar atenção. De repente os nossos olhares cruzaram-se. A expressão do bebé indicava claramente uma reacção que me deixou especialmente intrigado. Passados escassos segundos, o bebé voltou a buscar o meu olhar e novamente lhe observei uma expressão facial especial.<br />
Fiquei curioso, a imaginar qual teria a razão para aquele comportamento que me pareceu francamente fora do normal. Nem a expressão facial parecia própria de um bebé, ainda de mama como aquele era, e muito menos me parecia normal aquela clara insistência da procura do olhar e a reacção subsequente.<br />
De repente fez-se luz. Lembrei-me que talvez um mês antes tinha estado na brincadeira com ele num restaurante. Era o Manel! Algo na nossa brincadeira teria deixado uma qualquer marca porque lembro-me que, depois de terminada a refeição, enquanto se ia embora, ao colo do pai, o bebé se despediu de mim com um aceno que foi, aliás, notado pelos presentes. <div>Confirmei com a mãe. Sim, tinham estado no restaurante nessa noite, ela lembrava-se de todo este episódio perfeitamente.<br />
Ora bem: ontem o bebé reconheceu-me. Para minha vergonha confesso que, na altura, não me lembrei, eu, de tudo isto. Mas recordo-me que, quando notei aquele seu primeiro olhar, me passou pela cabeça que havia qualquer coisa de familiar no rosto daquela criança. Foi a insistência dele, como que a dizer-me "então não te lembras de mim?", que me fez recordar o que se tinha passado naquela noite.<br />
Esta história não tem conclusão ou "moral". Mas quem me lê irá decerto poder extrair muitas conclusões e descobrir a "moral" por detrás de tudo isto. E irá escolher decerto a que mais lhe convier.<div>Garanto-vos que nenhuma é a correcta...<br /><div><br /></div></div></div><div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-54135548262440463652016-04-30T17:02:00.000+01:002016-04-30T17:02:12.137+01:00Paulo Varela GomesUma singelíssima homenagem a alguém que admirei muito. Morreu hoje.<br />
Escrevi dois posts neste blog inspirados pelas suas crónicas. Estão <a href="http://fragmentos-caa.blogspot.com/2014/05/sobre-os-sinos.html" target="_blank">aqui</a> e <a href="http://fragmentos-caa.blogspot.com/2014/05/no-ultimo-post-referi-um-texto-de-paulo.html" target="_blank">aqui</a>.<br />
Embora não o conhecesse pessoalmente, tocou-me muito particularmente esta perda.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8508404719114453956.post-23643793801367423092016-04-01T02:30:00.003+01:002018-09-04T19:50:43.108+01:00O Labirinto<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG6iSTPm8Ege_RBfaaIM4Kek9X-Q6522-2JVquVKIqHh33Sm9r7dNrwR10xK5kfSgXOMmOBL3H47AkDqP5MRKs2fItu1wOp4SOEHnT2P_qr4oIvzQQn7SvItVUGu2Xpo-8nzgpvTgp3kF1/s1600/Labirynth.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiG6iSTPm8Ege_RBfaaIM4Kek9X-Q6522-2JVquVKIqHh33Sm9r7dNrwR10xK5kfSgXOMmOBL3H47AkDqP5MRKs2fItu1wOp4SOEHnT2P_qr4oIvzQQn7SvItVUGu2Xpo-8nzgpvTgp3kF1/s400/Labirynth.jpg" width="500" /></a></div>
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Havia naquela aldeia um espaço misterioso, rodeado de altas sebes e muros inexpugnáveis, que se dizia possuir uma vibração sobrenatural. Quem lá entrou, viu o espaço, experimentou a vibração e percebeu esta singularidade, jamais conseguiu descrever com exactidão o que sentiu.<br />
Periodicamente algumas pessoas eram atraídas de forma espontânea e imprevista para a sua entrada, sem que se saiba explicar qual a causa desse fenómeno. Por ali ficavam depois, expectantes. A porta que dava acesso ao seu interior abria-se de forma totalmente imprevista quando aparecia uma outra pessoa. Alguém também atraído, por uma qualquer razão inexplicável, para esse local que emparelhava com quem já lá estava à espera.<br />
Quando um par se formava, ouvia-se um som cuja origem ninguém conseguia identificar e a porta abria-se então através de um mecanismo, que se adivinhava complicadíssimo pelos sons que produzia, cujo modo de funcionamento também nunca foi possível descrever com rigor.<br />
O que se sabe é que quando se formava um par, a porta abria-se e esse par precipitava-se de forma incontrolada para o interior daquele espaço, atraído por uma qualquer e incompreensível força.
Os pares formavam-se sobretudo com gente local, mas era frequente aparecerem forasteiros que emparelhavam com algum habitante da aldeia ou eram também para ali atraídos e ali emparelhavam com algum dos outros forasteiros que para lá tinham igualmente sido também atraídos.<br />
Depois de entrarem no estranho espaço, a porta fechava-se. Era impossível abri-la de fora (antes tinha de se formar uma dessas parelhas), mas era possível abri-la por dentro e voltar a sair.<br />
Aos pares que entravam, deslumbrados com aquele intrigante fenómeno, deparava-se um longo corredor, ao fundo do qual havia uma saída. Depois de a passarem, novos corredores, com novas saídas, cada vez mais saídas e mais corredores que levavam os pares a ter de planear com cuidados redobrados os seus próximos passos. Por vezes desentendiam-se, optavam por ir cada um para uma saída diferente, outras vezes voltavam para trás, calcorreavam de novo um corredor anteriormente ultrapassado e escolhiam juntos uma saída diferente. Também acontecia seguirem por corredores diferentes para se reencontrarem mais adiante. Nesse caso, se resolviam voltar a avançar juntos, progrediam, recuavam, alguns acabavam por se separar novamente. Acontecia a alguns desistirem e voltarem para trás. Outros — daqueles que ensaiavam esse recuo — acabavam perdidos.<br />
Pelo caminho encontravam outros pares, por vezes um ou outro desses perdidos. Os mais prevenidos ou calculistas tinham optado pelo velho truque das migalhas de pão e reencontravam o caminho de volta à entrada, que abria, recordo, por dentro. Os mais incautos perdiam-se definitivamente.<br />
Por vezes um alçapão traiçoeiro abria-se subitamente e engolia um deles.<br />
A maioria, porém, acabava por encontrar a porta de saída. Esta abria-se, de forma igualmente misteriosa, quando o par que tinha completado esta jornada chegava junto a ela. Nessa altura esse par podia sair livremente daquele espaço, para o qual tinha sido atraído de forma tão inexplicável.<br />
Depois de concluirem este surpreendente percurso, já livres dos constrangimentos daquele espaço, muitos acabavam a viver na aldeia, outros iam por aí fora, de volta ao local de onde tinham partido ou para um novo destino, junto ao sol.<br />
Os registos da aldeia, cuidadosamente preservados pelos seus habitantes, intrigados com aquele inusitado fenómeno, contêm listas pormenorizadas dos numerosos pares que, depois de encontrarem a saída juntos, por lá ficaram ou passaram as suas fronteiras rumo a outros destinos. Dão também conta dos que se perderam por aqueles corredores que pareciam não ter fim, e dos que percorreram o caminho de volta à porta de entrada.<br />
Alguns destes últimos para ali ficariam, na esperança imorredoira de que pudesse aparecer algum par que permitisse accionar de novo o misterioso mecanismo de controlo da abertura da porta.<div class="blogger-post-footer">Copyright Carlos Alberto Augusto © 2018</div>Carlos Alberto Augustohttp://www.blogger.com/profile/15698440300555133634noreply@blogger.com0