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A mostrar mensagens de julho, 2010

O pecado

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”No dia em que comerdes este fruto, nesse dia, morrereis”. Dizia, em alusão ao mito do pecado original, o personagem da Morte numa das falas de  O Lavrador da Boémia de Johannes Von Saaz. O texto esteve na origem do espetáculo Letra M . Lembrei-me desta fala ontem durante o concerto magnífico que o duo Le Celesti Harmonie deu na Igreja dos Salesianos. O ambiente era favorável a estes pensamentos... De facto, o prazer de ouvir Paolo Pandolfo e Guido Balestracci afigura-se tão grande que é um sentimento de pecado que nos parece invadir. Um pecado duplo, o nosso, cometido ali à frente de todos (e numa igreja ainda por cima!), e o do duo, que também não esconde o prazer que tem em partilhar connosco estas celestes harmonias.  Harmonias forjadas por François Couperin, M. de Sainte-Colombe, Captain Tobias Hume e Christoph Schaffrath, entre outros,  oferecidas por Le Celesti Harmonie para deleite e prolongada satisfação dos nossos sentidos. Numa demonstração cabal de que é totalmente

Ser dobrado pelos sinos

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O tema do ruído não chega amiúde aos orgãos de comunicação. E quando chega é normalmente através de uma perspectiva desinteressante e mal informada. Os sinos das igrejas são um problema recorrente (1). Os sinos constituem aliás um tema que ultrapassa (2) a questão ambiental —e talvez por isso o transforme num problema recorrente— e envolve disputas de poder com contornos bem mais profundos. Enquanto o problema do ruído se resumir à questão dos “decibéis ” (quando é que raio as pessoas entendem que esta palavra não existe?! Vejam aqui e aqui ...) os prevaricadores estarão sempre defendidos. É o caso relatado neste artigo do Público que foi retomado numa interessante crónica chamada “Música Electrónica” do Miguel Esteves Cardoso no mesmo jornal. Enquanto o cónego Aparício “aguarda uma peritagem” e o presidente da Câmara de Beja “dá conhecimento à Igreja do mal-estar” que os sinos provocam, as vítimas vão dobrando com os nervos esfrangalhados.  (1) Aqui há tempos escrevi

A música como ruído

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Cheguei há pouco tempo de Koli (Finlândia) onde fui assisitr à conferência anual do World Forum of Acoustic Ecology. Escrevi algo sobre isso aqui .  O tema da conferência foi “Ideologies and Ethics in the Uses and Abuses of Sound”.  Nem de propósito, Miguel Esteves Cardoso escreve hoje no Público sobre a instalação de sistemas sonoros nas praias, difundindo música (se calhar, sem sequer pagar os respectivos direitos) em altos berros, em locais cuja paisagem sonora costumava ser feita do “som das ondas ou o alarido das crianças”.  Insurge-se com razão. É um tiro na música e o direito ao sossego ao fundo. Miguel Esteves Cardoso sugere ainda algo que deveria, de facto, ser norma: a atribuição da Bandeira Azul passaria  também a contemplar a poluição sonora. Usar sistemas deste tipo em praias que são usofruto de todos é uma atitude abusiva, sem ética, à qual está subjacente uma ideologia totalitária que entende que tudo se pode manipular, atropelar ou controlar, até o nosso dire