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A poesia do aço contra a força de Hades

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João Vieira Estreou no passado dia 7 mais uma produção do Teatro da Rainha, companhia com a qual colaboro vai para 30 anos. A nova peça intitula-se “Letra M” e baseia-se num texto de há cerca de 600 anos, chamado “O Lavrador da Boémia” de autoria de Johannes Von Saatz . O texto, escrito após a morte da mulher do autor, é um extenso e esmagador diálogo entre um Lavrador e a Morte. A perda da mulher leva o  Lavrador a desafiar a Morte, exigindo-lhe explicações. O que poderá alguma vez justificar a dor que lhe foi por ela causada? Como escreve, numa nota sobre o espectáculo, o encenador e meu especial amigo Fernando Mora Ramos, trata-se de uma reflexão em forma de diálogo “sobre um desejo de eternidade utópico que persegue o homem desde os primórdios da razão.” No confronto entre a Morte e o Lavrador, sou manifestamente seduzido pela Morte. A sua postura, o carácter implacável e a natureza irrefutável dos seus argumentos seduzem-me bem mais que a lamechice do Lavrador, “figura

Portugal de outra era (2)

Poucos dias depois de ter escrito o anterior post sobre a atenção dada ao problema do ruído pelos responsáveis, eis que surge um caso reportado nos jornais, como que a dizer-me "Afinal nem tudo está tão mau como parece!" O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) condenou a vizinha barulhenta de um casal, que vivia com os dois filhos num apartamento em Lisboa, a 25 000 euros de indemnização por violação do direito ao descanso. O processo arrastava-se desde 2002 e a decisão é considerada "pouco comum." O caso tem todos os ingredientes típicos destas situações de conflito entre vizinhos por causa do ruído. Um morador de um prédio produz ruído que impede a vida normal dos outros vizinhos, estes queixam-se, as queixas motivam retaliações por parte do prevaricador, as acções, avaliações e reclamações sucedem-se, nada se resolve, e a vida torna-se num autêntico inferno. Normalmente, nestes casos as vítimas recorrem aos organismos que lidam directamente com esta matéria: c

Portugal de outra era (1)

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A vereadora Helena Roseta da CML criticou anteontem o facto de não haver um plano para combater o ruído na cidade. A crítica saúda-se e a preocupação pelo problema assinala-se. Afinal ninguém liga nenhuma a este assunto. E, contudo, o problema do ruído continua a ser apontado como a disfunção ambiental número um (não só em Lisboa!). Helena Roseta revelou numa conferência de imprensa, onde apresentava os resultados de um estudo feito sobre o "repovoamento" da cidade com novos habitantes, que “há quem desista de morar na cidade por causa do excesso de barulho.” Roseta critica o vereador do pelouro porque anda a “apresentar o mapa do ruído da cidade há dois meses, mas não tem plano de acção.” Repito: o alerta saúda-se e a preocupação assinala-se, mas tudo isto é escasso. Quando, um dia, algum responsável político (seja a que nível for, local, regional ou central) for capaz de se debruçar sobre o problema do ruído, demonstrar sensibilidade e compreensão pelo que está em

Une voix trés humaine

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O meu interesse pela viola da gamba tem-se intensificado desde há dois anos a esta parte. Desde que recebi a minha guitarviol —um parente afastado pode dizer-se— que tenho ouvido e estudado o instrumento com algum detalhe e ainda não perdi a esperança de vir a tocar uma viola da gamba genuina. Não vou competir com um Pandolfo, uma Hille Perl ou fazer sombra ao Fretworks, mas gostava de ter uma viola da gamba minha... Este instrumento não tem grande tradição em Portugal e os concertos são relativamente raros. A visita de um grande executante é pois uma oportunidadee que não se pode perder, nem que isso implique uma viagem relativamente longa. Para quem não conhece, digo-lhe que a nave do Igreja do Mosteiro de Alcobaça tem para cima de 100 m de comprimento, 20 m de largura e 50 m de altura. Não quero exagerar, mas o tempo de reverberação deve exceder bem os 15 segundos. Tudo parece grandioso neste espaço. Imaginem agora o pequeno foco sonoro, colocado sensivelmente a meio d

Ruído em saldo

A propósito de ruído, ficámos a saber que o governo se prepara para diminuir o valor das coimas aplicadas a casos de infracção das normas ambientais. Exageradas ou mal calculadas, são algumas das justificações dadas para alterar o regime de coimas em vigor. O responsável governamental por esta área apressa-se a esclarecer que a “moratória” não tem nada a ver com o presente clima de crise financeira e económica. Que mensagem estará então o Estado a passar às populações? Que corromper o ambiente (finalmente) compensa...? Que atentar contra o ambiente era difícil, mas agora é mais “simplex”? No que respeita aos delicados mecanismos do ambiente sonoro já sabe: se tiver obras para fazer das 20 às 8 horas da manhã tem aqui a sua oportunidade de desgraçar, em definitivo e com desagravamento de custos, a vida dos seus vizinhos. Moer-lhes o juízo está agora em saldo. É aproveitar!

Decibéis? (2)

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Ainda a questão dos “decibéis”... Uma unidade é isto mesmo... UM! As unidades (metro, grama, ampere, newton, bel) são para todos os efeitos o equivalente a ... UM! As unidades têm o estatuto de um número. A expressão 10 m quer dizer “dez vezes 1 unidade que se convencionou chamar metro ”. Tem de ser lida DEZ METRO. Não existe matematicamente tal coisa como “metros”. Como não existem “doises” ou “dezanóves”. É tão absurdo dizer “cinquenta decibéis” como seria dizer dois “doises” para referirmos 2x2. Ignorar isto é triste, quando nos afirmamos “peritos” ou “consultores” em qualquer coisa. Deturpar isto e insistir na asneira, sobretudo se nos afirmamos “peritos” ou “consultores”, é bárbaro! O ar pomposo e taxativo com que os diversos linguistas consultados trataram a dúvida que coloquei sobre os “decibéis”, tanto no caso do programa “Cuidado com a Língua” como no caso do Ciberdúvidas, só revela uma coisa: ignorância.  Que é atrevida , como todos nós sabemos...  Ai de mim que