Ainda a Apple
Ler tudo aquilo que tem sido publicado sobre a morte de Steve Jobs e sobre a sua obra na Apple, não deixa de me dar, em certos casos, uma imensa vontade de rir.
Lembro-me quando em 1983 (creio que terá sido nessa altura, não o posso confirmar com precisão) eu e o meu querido amigo Pedro M. Freitas nos deslocámos a uma loja que ficava ali para as bandas da Av. João Crisóstomo para ver uma novidade que me descreviam como "bombástica". Era o Apple Lisa. Lembro-me do Pedro ter imediatamente começado a sonhar com as possibilidades que um computador deste tipo oferecia para as suas arquitecturas e eu imaginava futuros sonoros que, não muito tempo depois, se começaram a poder concretizar, de facto, de uma forma sólida e acessível, graças à Apple. O sonho era possível para mim e para o Pedro. Continuamos irmanados nesse sonho.
Lembro-me também que, nos tempos que se seguiram, muita desta gente que hoje tece loas a Steve Jobs, criticava a Apple por produzir computadores que pareciam brinquedos, caros. Diziam que eram computadores para gente com voz fininha, penugem e a cheirar a puberdade, ao contrário dos "compatíveis" que falavam grosso, tinham barba rija e pelos no peito. Usar computadores a sério era usar "Pc's" e homem que era homem usava DOS. Em vão a gente tentava explicar que alguns dos "defeitos" da Apple eram, na realidade, virtudes. O sistema operativo era inovador (a metáfora, computers as theatre...), bastante mais blindado, mais fácil de usar, mais intuitivo e o facto de só correr nos Macs era uma vantagem porque tornava a sua operação mais fluida e menos sujeito às incompatibilidades de que sofriam os "compatíveis". O utilizador de Pc's olhava para nós com ar de comiseração e lá seguia na dele, enquanto nós seguíamos na nossa.
Até que um dia chegou uma coisa chamada "windows"... Uma vergonha tão grande que, segundo creio, foi retirado do mercado após uma primeira tentativa de o comercializar. Só lá para uma versão mais adiantada a Microsoft teve a lata de o voltar a colocar no mercado. Os valentes utilizadores do DOS exultavam com a possibilidade de fazer agora coisas que os utilizadores dos Mac's faziam há anos. Como utilizar um rato, por exemplo... Lembro-me das sessões de tortura que foram as primeiras tentativas de usar um simples rato num PC.
O "windows" era uma cópia descarada, mal enjorcada e retardada do Mac OS original, que já levava, nesta altura, um avanço significativo, proporcionado por muitas versões e aperfeiçoamentos que o foram tornando cada vez mais fácil de usar e eficiente. Só o preconceito impediu durante anos que determinadas aplicações informáticas comuns corressem no sistema operativo Macintosh. O preconceito ou o medo de que funcionassem melhor, como se veio depois a confirmar.
A verdade é que, eu pessoalmente, em quase 30 anos de utilização de produtos da Apple, nunca tive um vírus, um "crash", ou um problema de incompatibilidades ou dificuldades de instalação de periféricos, para além dos que me foram causados por "nabice" minha ou incompetência da EDP... O melhor sistema operativo, as melhores e mais inovadoras aplicações sempre foram as que foram concebidas para os Macs. Só muito mais tarde, com a mudança dos processadores, as aplicações principais passaram a ser comuns às duas plataformas. E nem quero já não falar na sua beleza e na sua sempre exigente e comprovada correcção ergonómica.
Lembro-me quando em 1983 (creio que terá sido nessa altura, não o posso confirmar com precisão) eu e o meu querido amigo Pedro M. Freitas nos deslocámos a uma loja que ficava ali para as bandas da Av. João Crisóstomo para ver uma novidade que me descreviam como "bombástica". Era o Apple Lisa. Lembro-me do Pedro ter imediatamente começado a sonhar com as possibilidades que um computador deste tipo oferecia para as suas arquitecturas e eu imaginava futuros sonoros que, não muito tempo depois, se começaram a poder concretizar, de facto, de uma forma sólida e acessível, graças à Apple. O sonho era possível para mim e para o Pedro. Continuamos irmanados nesse sonho.
Lembro-me também que, nos tempos que se seguiram, muita desta gente que hoje tece loas a Steve Jobs, criticava a Apple por produzir computadores que pareciam brinquedos, caros. Diziam que eram computadores para gente com voz fininha, penugem e a cheirar a puberdade, ao contrário dos "compatíveis" que falavam grosso, tinham barba rija e pelos no peito. Usar computadores a sério era usar "Pc's" e homem que era homem usava DOS. Em vão a gente tentava explicar que alguns dos "defeitos" da Apple eram, na realidade, virtudes. O sistema operativo era inovador (a metáfora, computers as theatre...), bastante mais blindado, mais fácil de usar, mais intuitivo e o facto de só correr nos Macs era uma vantagem porque tornava a sua operação mais fluida e menos sujeito às incompatibilidades de que sofriam os "compatíveis". O utilizador de Pc's olhava para nós com ar de comiseração e lá seguia na dele, enquanto nós seguíamos na nossa.
Até que um dia chegou uma coisa chamada "windows"... Uma vergonha tão grande que, segundo creio, foi retirado do mercado após uma primeira tentativa de o comercializar. Só lá para uma versão mais adiantada a Microsoft teve a lata de o voltar a colocar no mercado. Os valentes utilizadores do DOS exultavam com a possibilidade de fazer agora coisas que os utilizadores dos Mac's faziam há anos. Como utilizar um rato, por exemplo... Lembro-me das sessões de tortura que foram as primeiras tentativas de usar um simples rato num PC.
O "windows" era uma cópia descarada, mal enjorcada e retardada do Mac OS original, que já levava, nesta altura, um avanço significativo, proporcionado por muitas versões e aperfeiçoamentos que o foram tornando cada vez mais fácil de usar e eficiente. Só o preconceito impediu durante anos que determinadas aplicações informáticas comuns corressem no sistema operativo Macintosh. O preconceito ou o medo de que funcionassem melhor, como se veio depois a confirmar.
A verdade é que, eu pessoalmente, em quase 30 anos de utilização de produtos da Apple, nunca tive um vírus, um "crash", ou um problema de incompatibilidades ou dificuldades de instalação de periféricos, para além dos que me foram causados por "nabice" minha ou incompetência da EDP... O melhor sistema operativo, as melhores e mais inovadoras aplicações sempre foram as que foram concebidas para os Macs. Só muito mais tarde, com a mudança dos processadores, as aplicações principais passaram a ser comuns às duas plataformas. E nem quero já não falar na sua beleza e na sua sempre exigente e comprovada correcção ergonómica.
Um outro aspecto que não tem sido suficientemente valorizado é que a inovação do conceito Apple criou ferramentas que inspiraram novas actividades e revolucionaram outras. Os Macs permitiram "inventar" o desktop publishing. O mundo da multimédia e o seu potencial como nova ferramenta pedagógica e de escrita, estavam já presentes num simples processador de texto como o MacWrite e no, certamente já esquecido, mas importantíssimo HyperCard. O tão badalado iPad é um longínquo herdeiro desta aplicação comercializada em 1987. Até as análises de DNA só eram possíveis em plataformas Apple. Gravar áudio num PC foi uma anedota até há não tanto tempo como isso.
E nem vale a pena falar no espantoso NeXT, que forçou a própria Apple a reinventar-se.
No princípio poucos compreendiam a visão de Jobs, o desígnio da Apple e o rumo que ele queria imprimir à companhia. Os primeiros produtos da Apple não foram propriamente estrondosos sucessos comerciais. Mas, a lógica da marca foi-se tornado clara, os cépticos foram-se muito lentamente rendendo e a Apple acabou por chegar à posição dominante que tem hoje. São todos estes, velhos utilizadores e outros recém convertidos, que agora lamentam o desaparecimento do homem que inspirou tudo isto.
Mas, creio que é forçoso reconhecê-lo, a Apple perdeu. Nesta querela entre a lógica de uma informática ubiquitária, útil, para todos, e uma informática secreta, para informáticos e generais... ganharam os generais. A Apple perdeu tempo, recursos e energias e perdemos, também, todos nós, com isso. A lógica sem compromissos da Apple foi durante muito tempo subjugada pela lógica badalhoca da Microsoft.
Hoje a situação inverteu-se. Mas, hoje também há quem pergunte para onde vai a América, agora que a inovação mora noutras paragens e os seus líderes empresariais e trabalhadores mais criativos desaparecem, ou migram para novas paragens, e a sua capacidade de inovação parece desvanecer-se no tsunami do caos económico. Talvez a estéril querela entre estes dois conceitos de aplicação de uma área em que os EUA dominaram —sem rival à altura, mas na tal lógica da badalhoquice— ajude a explicar um pouco a situação que por lá se vive hoje. A Apple acabou por ganhar, mas talvez tarde demais para que o seu país de origem possa colher dividendos sérios.
Mas, que dá vontade de rir ver muita desta gente a fazer o panegírico de um personagem que verdadeiramente nunca compreenderam e continuam a não compreender, lá isso dá...
E nem vale a pena falar no espantoso NeXT, que forçou a própria Apple a reinventar-se.
No princípio poucos compreendiam a visão de Jobs, o desígnio da Apple e o rumo que ele queria imprimir à companhia. Os primeiros produtos da Apple não foram propriamente estrondosos sucessos comerciais. Mas, a lógica da marca foi-se tornado clara, os cépticos foram-se muito lentamente rendendo e a Apple acabou por chegar à posição dominante que tem hoje. São todos estes, velhos utilizadores e outros recém convertidos, que agora lamentam o desaparecimento do homem que inspirou tudo isto.
Mas, creio que é forçoso reconhecê-lo, a Apple perdeu. Nesta querela entre a lógica de uma informática ubiquitária, útil, para todos, e uma informática secreta, para informáticos e generais... ganharam os generais. A Apple perdeu tempo, recursos e energias e perdemos, também, todos nós, com isso. A lógica sem compromissos da Apple foi durante muito tempo subjugada pela lógica badalhoca da Microsoft.
Hoje a situação inverteu-se. Mas, hoje também há quem pergunte para onde vai a América, agora que a inovação mora noutras paragens e os seus líderes empresariais e trabalhadores mais criativos desaparecem, ou migram para novas paragens, e a sua capacidade de inovação parece desvanecer-se no tsunami do caos económico. Talvez a estéril querela entre estes dois conceitos de aplicação de uma área em que os EUA dominaram —sem rival à altura, mas na tal lógica da badalhoquice— ajude a explicar um pouco a situação que por lá se vive hoje. A Apple acabou por ganhar, mas talvez tarde demais para que o seu país de origem possa colher dividendos sérios.
Mas, que dá vontade de rir ver muita desta gente a fazer o panegírico de um personagem que verdadeiramente nunca compreenderam e continuam a não compreender, lá isso dá...
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