Carta aberta, agora a mais uma data de queridos amigos e família


Queridos cunhados e amigos,

A última entrada neste blog foi dedicada aos que comigo embarcaram neste A Parábola. Juntos iremos continuar, seguramente, esta nossa (como um dia o definiu um outro amigo, infelizmente ausente deste concerto) “maravilhosa aventura da amizade”. Esse artigo foi escrito na continuidade do concerto de Évora de dia 9 de Setembro.

Hoje, é meu propósito falar do outro concerto que teve lugar no CCC das Caldas da Rainha, ontem dia 20. Não do concerto em si (o programa foi o mesmo, os que executaram foram os mesmos, os encómios repetem-se, igualzinhos), mas dos queridos amigos e família que se deslocaram para assistir a esta apresentação de A Parábola, alguns vindos de longe. 

Não é possível descrever o tumulto de sentimentos que a vossa presença suscitou em mim. Nestas ocasiões, no final, poderemos parecer aos olhos dos outros mais ou menos “normais”, mais ou menos fatigados, mais ou menos satisfeitos com a forma como o concerto decorreu. Nessa altura, a adrenalina ainda está a correr e, por causa disso, é difícil responder a cada um com a palavra precisa que descreve o que vai lá no fundo mais recôndito do nosso ser. Mas, deixem-me dizer-vos: a vossa presença tem um significado de tal modo transcendente, que, agora já mais calmo, tenho a certeza que está por criar a palavra que melhor o possa descrever.

Nestas ocasiões é costume, no final, ter de saltitar de um lado para o outro para conseguir dirigir a cada um a palavra de agradecimento pela presença, que lhe é devida. E durante esse vai-vem vamos ouvindo, também de cada um, um pensamento, vamos sentindo uma reacção, vamos percebendo o impacto que o acto artístico causou e que o objecto criado gerou em cada uma das pessoas com quem vamos falando. 

É então que as comportas se rompem e o coração, que já estava cheio, transborda. Ficou tudo registado, palavra por palavra, cintilação por cintilação do olhar de cada um, sorriso por sorriso. Fosse possível fazer um documentário com o registo directo do que os meus ouvidos ouviram e o meu olhar captou, neste meu contacto com cada um de vós!

Permito-me destacar o que disse a L.. É a ela que me dirijo, para concluir. Qualquer criador comprometido com o seu trabalho deveria ouvir, ao menos uma vez na vida, aquilo que ela me disse ontem. Numa frase singela, a L. disse tudo. São palavras como essas –que ficam entre mim e ela, e quem estava presente na altura, que por pudor e humildade não repito– que me deixam a sensação que, afinal, todo este sacrifício, toda esta luta, todos estes “porquês” e “para-quês” que permanentemente me fustigam o espírito, toda esta determinação em continuar, não foram, não estão a ser e não vão ser em vão.

Não é coisa pouca…

Obrigado também ao Teatro da Rainha.

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