Gary Burton e a fusão de partículas


Faz hoje exactamente um ano, assisti a um fenómeno verdadeiramente invulgar e empolgante. De tal maneira invulgar e empolgante, com um impacto de tal forma poderoso, que, passado todo este tempo, ainda não me consegui recompor. A coisa aconteceu mesmo ao meu lado, estava eu a ouvir o Burton. 
Tratou-se de uma colisão de partículas, um desses fenómenos da natureza que ocorre quando Deus decide e que os cientistas teimam em querer explicar, felizmente sem grande sucesso, diga-se de passagem. 
É daqueles casos de que só nos apercebemos em circunstâncias muito especiais, como aquelas que tive o privilégio e a felicidade de viver, em primeira mão, ali mesmo, enquanto via e ouvia o Burton, a centímetros do acontecimento, deitando-lhe simultaneamente um olho, assim de soslaio, o que me permitia ir percebendo o que se estava passar. Num agitado estado de alerta total, conduzido sabe-se lá por que força, talvez uma percepção inexplicável de que algo de facto invulgar se estava ali a passar.
A Física descreve-nos vários tipos de interacção entre as componentes subatómicas da matéria e ensina-nos (e quem sou eu para pôr em causa tais ensinamentos...) que, numa colisão de partículas, a energia disponível é a que existe para produzir matéria nova a partir das partículas em colisão. Dois núcleos repelem-se a grandes distâncias, mas se forem suficientemente aproximados, colidirem e a energia disponível for suficiente, fundem-se. 
Deste processo de fusão, sabe-se hoje, resulta a libertação de grandes quantidades de energia. Muito mais do que a necessária para que ocorra a fusão em si mesma. O Sol, por exemplo, está em constante processo de fusão e liberta desta forma as quantidades brutais de energia que nos vão aquecendo os dias. Por aqui, pela força exibida pelo astro-rei, se vê o potencial e a dimensão do fenómeno.
Leptões, bosões ou quarks são partículas de que toda a gente ouviu falar. Mas estas de que vos falo, nem os mais reputados laboratórios de física de partículas do mundo as conhecem e nenhum físico iria alguma vez prever o que se iria passar entre elas.
Algo aproximou aquelas partículas que observei, mesmo ao meu lado, enquanto ouvia o Burton, e as empurrou uma contra a outra. Foi uma total fusão, sem dúvida, que ocorreu, embora as conclusões desta minha observação – não tenho formação em Física, para além da que me foi dada no liceu, que me permita retirar conclusões mais sustentadas – não contenham, por um lado, nada de científico e, por outro, eu fosse, naquele caso, um observador totalmente parcial. 
Mas, afianço-vos, as duas partículas que observei fundiram-se numa só, ali mesmo, ao meu lado, perante o meu olhar, enquanto o Burton tocava. 
Este processo de fusão nuclear é sobejamente conhecido. Mas nenhum dos cientistas que sobre ele teorizam poderia certamente prever este caso de violenta interacção entre estas duas partículas, que eu vi fundirem-se instantânea e intimamente, mesmo debaixo do meu olhar, ao som do Burton.
Ali mesmo, sentado à beira do fenómeno, numa noite de maio, faz hoje precisamente um ano. Eu vi tudo, embora mais ninguém, dos muitos que estavam à beira das partículas, tenha percebido o que se estava passar naquele momento.
Duas pequenas partículas, se observadas à escala deste universo infinito. 
Duas pequenas partículas a brincar ao astro-rei.
Dois pontos faiscantes que entravam inexoravelmente na órbita um do outro, transformando-se de repente numa só, nova e esplendorosa explosão de energia.


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