O novo normal


A esteva (Cistus ladanifer) é uma planta muito comum em Portugal. A época da floração decorre entre Março e Junho. Nessa altura, os campos e os caminhos ficam marcados por extensas zonas cobertas pela sua flor branca e algumas pessoas referem-se-lha até como a “neve,” porque, de facto, faz lembrar um nevão tardio. São lindíssimos os campos cobertos de flor de esteva. Pessoa muito querida, todos os anos me manifestava um singelo e comovente, mas muito poético, espanto perante o espectáculo, sempre igual mas sempre renovado, desta neve-esteva. 

A foto que acompanha este escrito foi tirada hoje, dia 24 de Dezembro de 2020. 
São as primeiras flores de esteva. 
Estamos em Dezembro....
Este é o ano da covid19, do vírus que era e que não era, dos estados de emergência on-off, das flores de esteva prematuras, dos crimes ambientais impunes, da miséria, das desigualdades e injustiças geradas por um sistema de que tantos beneficiam para prejuízo de tantos mais. O ano das escolhas, entre a injustiça escancarada, à vista de todos, e, perante ela, do quase generalizado assobiarismo--para-o-lado, a que também podemos chamar, talvez com mais propriedade, de cobardia criminosa. 
Este é também o ano em que tanta gente vestiu, agora sem qualquer sombra de vergonha de a exibir, uns, a roupa da estupidez sem limites e, outros, do oportunismo mais miserável, sem quaisquer escrúpulos. 
Ficará como sendo o ano do perdão a gente que devia ter sido encerrada em manicómio de alta segurança, imobilizada em câmara de dessensiblização, metida em colete de forças bem apertado e altamente sedada para não causar mais dano. 
Gente parida na “normalidade,” que já vinha de trás, uma “normalidade” que tantos ainda desejam retornar.
Por tudo isto, desejo uma excelente quadra natalícia e um ano novo profundamente anormal...

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