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Ao AC

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O ntem foi um dia bom. Fui surpreendido com a generosíssima oferta, por parte do meu querido amigo A.C., de um exemplar da Acústica Musical, do saudoso Luís Henrique, cuja grata memória aproveito aqui para evocar. Ainda estou sem conseguir encontrar as palavras exactas para descrever o impacte que a oferta do A. teve. O livro encontra-se há muito esgotado e eu, por razões várias, nunca tive a oportunidade de o obter. A generosidade do A. ajudou a preencher uma lamentável lacuna na minha biblioteca, que há muito lastimava. Vem a propósito lembrar que o livro  Acústica Musical constitui a única obra de referência nesta área, em português. E aproveito esta nota pública de gratidão para manifestar o meu sentimento de total perplexidade pelo facto de a FCG, editora original do livro, não tomar a iniciativa de o reeditar. É um mistério, daqueles para os quais se não encontra qualquer explicação válida. O Luís não merece ficar na história, na melhor das hipóteses, apenas como stock de alfar

Não há coincidências (dois em um)

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Fragmento de um desenho de © José Carlos Faria Abertura. No passado dia 9/11, recebi finalmente, das mão do seu autor,  o meu amigo, cenógrafo e figurinista, José Carlos Faria, o prometido desenho de um figurino concebido por ele para a minha amiga Rita Nunes, a súper saxofonista.  Primeiro Andamento. Há uns dias o José Carlos Faria surpreendeu-me com um telefonema para me informar que tinha o tal desenho original do figurino da Rita para me oferecer. Com uma dedicatória que me deixou absolutamente sem palavras. Só no dia 9, como referi, o desenho me pôde chegar às mãos. O desenho é, em si, uma verdadeira preciosidade e desencadeou, pela via do traço do Zé Carlos, uma cascata de caríssimas recordações. Segundo Andamento. A Rita usou esse figurino na peça "Um contínuo movimento, um estranho equilíbrio" de Rocco D'Onghla, uma das peças que fazia parte de um espectáculo do Teatro da Rainha, chamado " Estação Inexistente ." Que bem poderia chamar-se "Estação In

OVNIS e a Lei dos Vasos Comunicantes

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J ohn Williams (*) é um compositor de fitas. Não se lhe conhece qualquer brilharete significativo, fora do domínio da música para cinema de grande bilheteira. Mas John Williams goza de um enigmático estatuto especial, não porque tenha inovado o género ou criado algo de especialmente significativo fora dele, mas porque sabe cavalgar a  blockbuster machine americana, proporcionando o fogo de artifício sonoro que os guiões hollywoodescos exigem. A música deste compositor vai ser apresentada em Lisboa, no amplo espaço do Vale do Silêncio, dentro em breve, executada pela Orquestra Gulbenkian. Não tenho a mínima dúvida que o evento vai ser um tremendo sucesso. Talvez tenha direito a directo e até, quiçá, abertura de telejornal. O espaço vai estar à cunha, com toda a gente de bem a assistir e a aplaudir, no final, de pé. Porventura possuídos pelo espírito de um evento recente, realizado em local não muito distante, os espectadores assistirão ao mega evento, reverentes e de mãos postas, prov

O(s) regresso(s)

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Estreou a peça Ajax, Regresso(s) , de Jean-Pierre Sarrazac, uma produção do Teatro da Rainha, encenada pelo Fernando Mora Ramos. É a 63ª peça para a qual concebi a musica ou o cenário acústico, quinta peça escrita por Sarrazac em que participo. Começou com a importante experiência que foi o Menino Rei , continuou com Envelhecer diverte-me , a Paixão do Jardineiro,  a Morte de um DJ e prossegue agora com este Ajax, Regresso(s). Regresso, também eu, com este  Ajax, Regresso(s)  ao Teatro da Rainha, companhia para a qual trabalhei em trinta outras produções, para além dos cinco referidos textos de Sarrazac, após um relativamente longo interregno. Regresso também com algumas sonoridades que me trazem à memória as minhas primeiras colaborações com a companhia. Ao contrário da figura da epopeia Homérica ou do herói do drama sofocliano, este Ajax é um personagem que nos suscita arrepios. Nada parece capaz de apagar a sanha sanguinária que o faz correr. Tentar compreendê-lo ou dialogar c

Uma mulher, num carro, a beber café (das notas de programa e algumas notas adicionais)

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Foto Carolina Lecoq O espectador entenderá, a seu tempo, no decorrer do espectáculo, a razão deste título.  A inspiração para ele remete para uma série de 2012, concebida pelo comediante Jerry Seinfeld, intitulada Comedians in Cars Drinking Coffee . A série, que totalizou 11 temporadas, para um total de 84 episódios, foi pensada originalmente para plataformas digitais e passou depois do site , onde pôde ser vista originalmente, para a Netflix . Em cada episódio Seinfeld convidava um colega comediante, e, para cada um, escolhia um carro clássico, que melhor se ajustasse à sua personalidade. Seguiam depois num passeio até a um café ou restaurante, onde os dois tomavam café e conversavam. Os episódios poderiam divergir deste formato singelo, com a inclusão de cenas mais ou menos improvisadas. Do formato desta série resultou, na minha opinião, uma das coisas mais bem concebidos a que pude assistir neste género. A qualidade da série resulta da enorme economia de meios, da sua subtil e ef

A Cantata de Évora

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  U m telefone que toca. Passaram vinte anos. A surpresa do contacto. Do outro lado vem uma aliciante proposta: criar o envolvimento sonoro de um novo centro interpretativo, em Évora, instalado num espaço de características únicas, com muito material informativo para lá colocar. O “caderno de encargos” que me é transmitido, encerra um enorme e complexo desafio. O centro interpretativo precisa de som que lhe "acrescente" espaço e lhe alivie a pressão informativa, tornando-o mais ligeiro sem lhe comprometer. função. Som que substitua, na medida possível, parte dos habituais dispositivos usados para exibir este género de conteúdos, painéis, ecrãs. Mas som que funcione também como uma espécie "sala de espelhos" e, ao mesmo tempo, conferindo virtualmente mais dimensão ao espaço expositivo, ajudar a transmitir informação que, de outra forma, iria sobrecarregar   e saturar esse espaço. O telefonema foi de Cármen Almeida, coordenadora geral do projecto, que me transmite o c

A história de uma canção

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  No magnífico documentário passado há dias na RTP2 (de 2018), a propósito do 75º aniversário de Joni Mitchell, há um curtíssimo momento, que conta uma história complexa. Graham Nash (por quem eu vim a ter muito menos admiraração do que durante a minha juventude, ao contrário de Joni...) canta Our House , uma canção que escreveu para ela em 1970. Ele tinha 27 anos, ela tinha 26. No final, visivelmente nervoso, levanta-se do piano, lança um olhar furtivo em direcção a Joni e sopra, aliviado. Joni olha-o, ao longe e diz tudo.