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A mostrar mensagens de 2011

Sons e silêncios

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No último post referi um texto de Paulo Varela Gomes na sua habitual coluna do Público “Cartas do Interior”. PVG é um autor com o qual me identifico (suponho que seja uma mistura de sintonia ideológica e geracional), com o qual partilho muitas ideias e é leitura imprescindível aos sábados.  Não me surpreende a qualidade da sua escrita e a renovada originalidade dos temas que aborda, mas quando pensava que neste domínio nada me conseguiria afastar desta expectativa cómoda a que me habituou, eis que uma série de artigos em que aborda, mesmo que de forma por vezes indirecta, um tema que me é particularmente caro —o som e o silêncio— me vem desassossegar .  Recomendo a todos os que se interessam por esta matéria a leitura da crónica de 19/11, justamente intitulada “Silêncio”, a de 26/11 (já referida no post anterior) intitulada “Angelus” e, finalmente, a de 10/12 intitulada “Tempos Mortos”.  Raramente os autores da minha área da comunicação acústica têm uma visão t...

Sobre os sinos

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Uma edição da série Encontros com o Património dedicada aos sinos. Chama-se “Os sinos - outros sons, outros tons” e constitui uma espécie de relatório do estado da arte sobre tudo o que diz respeito aos sinos em Portugal. Ouça aqui , é imperdível. Este programa surge, curiosamente, mais ou menos no momento em que Paulo Varela Gomes escreve na sua habitual crónica do Público um Angelus (“Cartas do interior”, 2011/11/26) sobre sinos. Fala num “tempo dos mercadores”, construído “à medida que deixamos de ouvir o som antigo dos sinos, que só aos velhos faz hoje semicerrar os olhos, baixar a fronte e suspender por um instante o vazio do tempo.” “Não há coincidências,” dizia-me um dia uma amiga muito querida. Este texto não poderia ilustrar melhor o programa da TSF. Não pode ser coincidência... NB- A foto que ilustra o post foi retirada de uma reportagem da RTP sobre a Fundição de Braga, uma das mais antigas fábricas portuguesas de sinos.

Ainda a Apple

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L er tudo aquilo que tem sido publicado sobre a morte de Steve Jobs e sobre a sua obra na Apple, não deixa de me dar, em certos casos, uma imensa vontade de rir. Lembro-me quando em 1983 (creio que terá sido nessa altura, não o posso confirmar com precisão) eu e o meu querido amigo Pedro M. Freitas nos deslocámos a uma loja que ficava ali para as bandas da Av. João Crisóstomo para ver uma novidade que me descreviam como "bombástica". Era o Apple Lisa . Lembro-me do Pedro ter imediatamente começado a sonhar com as possibilidades que um computador deste tipo oferecia para as suas arquitecturas e eu imaginava futuros sonoros que, não muito tempo depois, se começaram a poder concretizar, de facto, de uma forma sólida e acessível, graças à Apple. O sonho era possível para mim e para o Pedro. Continuamos irmanados nesse sonho. Lembro-me também que, nos tempos que se seguiram, muita desta gente que hoje tece loas a Steve Jobs, criticava a Apple por produzir computadores que pareci...

Viver ao vento

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As actividades humanas que se exercem em comunhão com o ambiente que nos rodeia dão-nos uma perspectiva muito rica da realidade. Uma reportagem recente da TSF (inserida na rubrica “Ouvir e verão”) dava conta de um moinho ainda em funcionamento na região do Bombarral.  Os moinho são destas tecnologias que vivem do ambiente e devolvem o que lhe cobraram com uma preciosa mais valia. Os moinhos utilizados para a moagem do grão são máquinas impressionantes, belas e perfeitas na economia e na eficácia do seu funcionamento, admiráveis na forma harmoniosa como servem o seu propósito. Os moleiros são seres que, de forma consciente ou não, reflectem tudo isto e revelam, no meio de todo este complicado fluxo de energias benfazejas, uma serena mas profunda sabedoria.  O som tem um papel crucial no modo de funcionamento dos moinhos. Internamente qualquer peça revela a correcção do seu funcionamento pelo som que emite. O moleiro sabe ouvir e descodificar o som dos mecanismos do seu...

Com o coração

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Ouço na rádio, enquanto conduzo o meu automóvel de volta a casa, o novo Bispo de Bragança-Miranda, José Manuel Garcia Cordeiro. Diz que vem,  sobretudo, escutar . A frase suscita-me maior atenção. “Não com o ouvido,” acrescenta e esclarece, “mas com o coração.” Chego a casa e assisto logo de seguida a um magnífico documentário sobre Alberto Korda, o fotógrafo cubano, o fotógrafo do Che e da Revolução.  A propósito de fotografia e do ensino desta arte, no derradeiro plano deste documentário, enquanto se vê Korda a sair de casa com a sua Canon, ouve-se a sua voz, citando uma frase de Antoine de Sainte-Exupéry do “Principezinho” dizer: “para ver , verdadeiramente, temos de o fazer com o coração.”  Um coração (esse orgão que parece fazer tão bem a síntese audio-visual), duas maneiras de sentir o mundo à nossa volta. Duas maneiras de tocar o divino.

Steve Jobs

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U so produtos da Apple desde 1984. Quando Jobs saiu da Apple "passei" pela NeXT, para depois "voltar" com ele à Apple. Os Macs, iPhones, etc, fazem parte de um contínuo de ferramentas que culmina no iPad (de cujo impacte ainda nos estamos todos a refazer...) e marcaram indelevelmente o meu quotidiano. Fizeram e farão sempre parte significativa desse quotidiano.  A Apple é um fenómeno único, muito mais que um mero fabricante de "computadores" ou de produtos de "consumo". Um fenómeno digno da nossa reflexão, produto do  fenómeno  Steve Jobs. Sempre pensei em Jobs como uma espécie de "membro da família". E sigo-lhe desde há muito o conselho ...

Reforma e paradiddles

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Acabo de ver a actuação da Freedom Band de Chick Corea, no “Jazz à Marciac 2010”. A banda inclui Kenny Garrett, Christian McBride e Roy Haynes.  Que dizer desta música e destes músicos...? Tudo isso está de tal maneira para além de quaisquer palavras que me limito a destacar, por razões que esclareço adiante, o baterista Roy Haynes.  Pena este extracto do Youtube, que indico aí em baixo, não conter a dança final que Roy Haynes executa perante os colegas incrédulos e um público em perfeito delírio, mas ficam, pelo menos, com uma ideia da aura absolutamente esplendorosa deste Roy Haynes, a vender energia e a “estragar” a noite aos seus colegas, dois deles bem mais novos.  Ver este homem, com 85 anos na altura em que escrevo, a tocar assim deveria fazer parte de qualquer programa de recuperação da crise económica. Seria, por exemplo, inspirador passar esse seu solo neste concerto nos ecrãs das repartições da Segurança Social. A ideia de reforma —sobretudo, antecipada—...

Não ouviu

Um homem de 88 anos morreu no Entroncamento, colhido pelo Alfa. Segundo o Público , pessoas presentes na plataforma terão tentado avisá-lo “ para não atravessar naquele momento,” mas o homem não ouviu. Usava um aparelho auditivo. O velhote tinha acabado de chegar de uma visita à filha e atravessava a linha para apanhar a sua bicicleta.” Não ouviu os avisos emitidos pelos altifalantes da estação, não ouviu as pessoas que o tentaram avisar, não ouviu o comboio aproximar-se. Não ouviu.

Sound design, marketing ou tontice?

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Entro no supermercado e dou de caras com esta preciosidade: uma marca de batatas fritas convida-me — em tom familiar e “tutuando-me” — a “fazer sandes com barulho!” Como durante muitos anos me dediquei a fazer cumprir as regras para prevenir o incómodo do “barulho” tive, confesso, um arrepio. Não me parece ser esta a melhor forma de sensibilizar as pessoas para a enorme importância do som na nossa vida, nem particularmente excitante esta nova técnica de design sonoro. Por outro lado, o truque de marketing vem provar, sem margem para dúvida (para quem tenha dúvidas...), a importância do som. Os promotores de vendas —que actuam em território certamente seguro e testado— não hesitam em explorar este filão. E fazem-no a um nível muito sofisticado, atingindo um ponto nevrálgico. Talvez então o marketing possa ser um aliado. Perverso, mas eficaz...  Pergunto-me se estes estariam interessados em financiar uma campanha de higiene auditiva. Imaginem, por exemplo, sobre os malefíci...

“Vermelho da cor do céu”

Uma reportagem de Ana Catarina Santos e Luís Borges da TSF para ouvir aqui . Sobre a cegueira total feita através de um medium “cego”. Um achado!

Perdão de Natal

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O Primeiro Ministro actual não é personagem sobre o qual recaem as minhas particulares simpatias. Tenho-o aliás demonstrado com a frequência possível num outro blog para o qual escrevo. Mas, noblesse oblige , não posso deixar de assinalar a referência que fez ao ruído e o destaque que deu a esta questão durante a recente apresentação do Nissan Leaf. Em vez de esquecer esta característica ambientalmente positiva do novo veículo, ou de a deixar escondida no meio das outras (emissões de CO2 e consumo energético), Sócrates colocou o ruído em primeiro lugar (eu ouvi!) por duas vezes no seu discurso. Num período em que, ele próprio de maneira não despicienda, contribui para o enorme ‘ruído’ que por aí vai, chamar a atenção para um problema ambiental grave e mostrar uma solução real para o combater, constitui um acto que requer (neste caso, sim!) alguma coragem.

Televisões portuguesas: o horror à música

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Os portugueses serão menos musicais que os outros povos? Gostarão menos de música? Praticarão menos música per capita ? Será a sua estrutura neurológica diferente da dos outros povos, no que respeita às zonas dos seus cérebros que reagem ao fenómeno musical? A música fará menos parte do seu dia a dia? Estarão menos interessados do que os outros pela música que se faz fora do seu país? Estarão, perguntaria mesmo, menos interessados na sua própria música e na dos seus músicos do que os outros povos demonstram estar pela sua própria? Estas e outra perguntas acodem-me à mente quando, de repente, tomo consciência que não vejo um programa de música nas televisões portuguesas há muito, muito tempo. Não me refiro a essa imbecilidade dos programas dos tops . Nem me refiro aos músicos que vão tocando nos pouquíssimos programas que têm uma banda residente. Refiro-me aos concertos, aos programas gravados em estúdio, às séries de música, aos especiais de música, em especial os que envolvem músic...