O exemplo de Alcoutim

O presidente da Câmara Municipal de Alcoutim é médico e isso pode, em parte, explicar a razão que levou aquela câmara a decidir criar um inovador Programa de Erradicação da Surdez. A audição é um elemento chave no nosso relacionamento com o mundo que nos rodeia. Muita da nossa “humanidade” virá do facto de termos desenvolvido estratégias  surpreendentemente complexas de sobrevivência, ao longo do nosso processo evolutivo como espécie, assentes no mecanismo da audição. A fala e a música, são traços definidores do nosso processo filogenético, que assentam na evolução do nosso mecanismo auditivo.
Há qualquer coisa de bárbaro em condenarmos hoje pela incúria das instituições sociais, ou deixarmo-nos condenar a nós próprios a um processo, muitas vezes, precoce de ensurdecimento, ou deixarmo-nos vencer por uma noção totalmente descabida de que é “natural” ficar surdo.
Para mim que sou músico este problema é especialmente agudo. 
Uma perda temporária de audição, por exemplo, pode ser um bom remédio para percebermos a importância vital deste sentido. Já me aconteceu e, digo-vos sem rodeios, é uma experiência profundamente traumática (ver aquiaqui e aqui) que não se deseja repetir...
Hoje “os velhotes sorriem em Alcoutim,” e já não têm medo dos sons que reaprenderam a ouvir, segundo uma reportagem da TSF. “As pessoas, os velhotes nomeadamente, acham que é natural ficar surdo e como tal há um isolamento dentro da própria habitação, as pessoas não vêem televisão, não conversam umas com as outras porque acham que não há nada a fazer,” diz o Presidente da Câmara de Alcoutim.
Terá o doutor Francisco Amaral percebido isto pela sua formação profissional, será mais sensível a este problema por qualquer razão pessoal ou por qualquer traço especial da sua personalidade. 

O certo é que a Câmara de Alcoutim e este Programa de Erradicação da Surdez constituem exemplos que não podem deixar de ser destacados.

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